Até agora, tem-se verificado que só galáxias com bojos centrais possuem buracos negros de massa elevada, também chamados buracos negros galácticos para distinguir do outro tipo de buracos negros, os estelares. Além do mais, tem-se verificado uma relação directa entre o tamanho do bojo central e a massa do buraco negro.

Mas agora, astrónomos determinaram que a galáxia NGC 4395, uma galáxia com disco, mas sem bojo central, alberga um buraco negro no seu centro com aproximadamente 10 000 a 100 000 vezes a massa do Sol. A dimensão deste buraco negro seria consistente com uma galáxia com um pequeno bojo, mas esse bojo parece não existir.

Os buracos negros de massa elevada abrangem tipicamente massas desde milhões até milhares de milhões de vezes a massa do Sol. A constatação de que NGC 4395 possui um buraco negro de massa intermédia sugere que estejamos a descobrir os "pesos pluma" dos buracos negros galácticos, isto é, com massas da ordem de mil vezes a massa de buracos negros estelares.

NGC 4395 encontra-se a 11 milhões de anos-luz, na constelação dos Cães de Caça, e é simultaneamente a galáxia Seyfert mais próxima de nós e a menos luminosa. Já se sabia que a sua região central emite quantidade de luz significativa tanto no óptico como nos raios-X. Este facto foi interpretado como um sinal da presença de um buraco negro central de massa elevada, a engolir activamente matéria do disco de acreção aquecido. Só que o buraco negro não tinha sido detectado.

A. Filippenko (Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA) e L. Ho (Observatórios da Instituição de Carnegie de Washington, EUA) utilizaram o telescópio de 10 m Keck I (Caltech/Universidade da Califórnia/NASA) e o observatório espacial Japonês e Norte-americano de raios-X ASCA para provarem que NGC 4395 tem mesmo um buraco negro galáctico, embora invulgarmente leve. O seu trabalho será publicado na revista da especialidade The Astrophysical Journal Letters, na edição de 1 de Maio de 2003.

Filippenko e Ho determinaram os limites para a massa do buraco negro central de NGC 4395 utilizando a técnica da velocidade de dispersão. Esta velocidade refere-se a quão rápido, em média, as estrelas na região do centro da galáxia orbitam em torno do buraco negro central. É como se se medisse a velocidade média de um enxame de abelhas em órbitas circulares em torno da colmeia, tendo em conta que são órbitas com diferentes raios e orientações.

Desde o ano 2000 que se confirmou existir uma correlação forte entre a velocidade de dispersão e a massa dos buracos negros de massa elevada. Contudo, é a primeira vez que se utiliza esta técnica para um buraco negro de massa intermédia. O resultado obtido, baseado na medição da velocidade de dispersão de um aglomerado de estrelas muito próximo do buraco negro central, foi que o buraco negro tem uma massa 66 000 vezes a massa do Sol, praticamente o valor intermédio dos limites determinados pela sua luminosidade em raios-X.

Os autores deste estudo sugerem ainda que NGC 4395 pode representar um passo único na evolução de buracos negros de massa elevada, em que um bojo central se desenvolve à medida que o buraco negro cresce. O aglomerado de estrelas próximo do centro é uma possível indicação de que um bojo central um dia se formará.

Fonte da notícia: http://www.berkeley.edu/news/media/releases/2003/04/10_skinny.shtml