Imagem da galáxia anã IC 10 surpreende astrónomos

2003-04-03

Imagem composta da galáxia anã IC 10. A azul temos a imagem da galáxia na banda do visível, obtida no observatório de Kitt Peak (Arizona, EUA). A vermelho, temos emissão de hidrogénio atómico, na transição Hα, e a verde temos emissão da molécula de monóxido de carbono (CO), a molécula mais abundante no universo a seguir ao hidrogénio molecular. Crédito: OVRO, Caltech, NOAO, KPNO.
Um estudo pormenorizado da galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
irregular IC 10, pertencente ao nosso Grupo Local de galáxias
Grupo Local de galáxias
O Grupo Local de galáxias é o enxame de galáxias a que a Via Láctea pertence. É um enxame pequeno, constituído por duas galáxias espirais grandes - Andrómeda e a Via Láctea - e por mais de quarenta pequenas galáxias, muitas só descobertas recentemente.
e a cerca de 2,5 milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
de distância, surpreendeu os astrónomos. Usando o rádio-interferómetro milimétrico do observatório de Owens Valley (EUA), foram obtidos e combinados 15 mapas individuais, de modo a obter um mosaico final mostrando a localização, em IC 10, da molécula
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
de monóxido de carbono (CO), um dos constituintes fundamentais do gás interestelar
gás interestelar
O gás interestelar é constituído pelos átomos, moléculas e iões de elementos, ou substâncias, gasosas presentes no meio interestelar.
molecular (ver figura). Descobriu-se que, em IC 10, a maior parte do gás molecular - o material a partir do qual se formam novas estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
- se encontra dispersa pela periferia da galáxia, e não concentrada no seu centro, como seria de esperar.

Este resultado vem mostrar que, afinal, as galáxias irregulares são bem mais irregulares do que se pensava, pois indica que é possível que as estrelas se formem nas regiões remotas e mais periféricas deste tipo de galáxia, e não junto da região central. Com base nestas novas observações, os astrónomos concluiram que não só IC 10 possui uma massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de gás molecular bem menor do que as estimativas anteriores, como o seu conteúdo de gás molecular, em percentagem, é muito menor do que na Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
. Em geral, as galáxias irregulares possuem menos elementos pesados do que as galáxias espirais. Isto pode querer dizer que as galáxias irregulares são mais semelhantes às galáxias que existiam no universo jovem, no qual terá havido menos tempo para as estrelas produzirem e devolverem elementos pesados ao meio interestelar
meio interestelar
O meio interestelar é constituído por toda a matéria existente no espaço entre as estrelas. Cerca de 99% da matéria interestelar é composta por gás, sendo os restantes 1% dominados pela poeira. A massa total do gás e da poeira do meio interestelar é cerca de 15% da massa total da matéria observável da nossa galáxia, a Via Láctea. A matéria do meio interestelar existe em diferentes regimes de densidade e temperatura, como por exemplo as nuvens moleculares (frias e densas) ou o gás ionizado (quente e ténue).
, através de explosões de supernova
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
.

Este estudo, como outros, mostra bem que este tipo de galáxia pode constituir um laboratório importante, fornecendo pistas cruciais sobre como se terão formado estrelas neste tipo de galáxia, num passado distante, quando o universo era ainda jovem. É interessante notar que as galáxias irregulares são o tipo de galáxia existente em maior número no nosso universo, e muitas dessas galáxias, tal como IC 10, estão relativamente próximas. Isto significa que é possível estudar a formação de estrelas nestas galáxias com um detalhe que não é possível ainda alcançar em galáxias espirais muito distantes. Mais ainda, muitos astrónomos acreditam que estas galáxias são, efectivamente, os blocos de construção do nosso universo observável
Universo observável
Chama-se Universo observável a tudo o que pode ser observado até ao limite em que, no passado, e de acordo com os modelos teóricos, o Universo era opaco, ou seja, quando tinha uma idade de apenas cerca de 300 mil anos.
, a partir dos quais galáxias maiores se formaram, por coalescência.

Fonte da notícia: http://www.aoc.nrao.edu/epo/pr/2003/ic10/