Astrónomos calcularam o brilho da supernova de 1006 DC

2003-04-02

A imagem da esquerda, observada em 1998, mostra a região mais brilhante da bolha de hidrogénio em expansão à volta da remanescente da supernova de 1006 DC. A estrutura filamentar que atravessa a imagem é hidrogénio que brilha por ter sido excitado recentemente pela onda de choque da supernova. À direita, a subtracção da mesma imagem por uma mais antiga, de 1987. Destaca-se assim o movimento para o exterior da onda de choque, durante 11 anos. O traço branco indica a sua posição em 1987, enquanto o traço escuro mostra-a em 1998. Crédito: Middlebury College/NOAO/AURA/NSF.
Em 1 de Maio de 1006 DC, uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
espectacularmente brilhante apareceu de repente no céu, na constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
do Lobo, a sul do Escorpião. Nessa altura, observadores em regiões que hoje ficam na China, Japão, Egipto, Iraque, Itália e Suíça registaram observações da estrela, que terá permanecido visível por vários meses antes de desaparecer. Embora todos concordem que a estrela teria sido extremamente brilhante, até agora não era claro exactamente qual o valor desse brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
.

Hoje em dia, os astrónomos há muito concluíram que o fenómeno de 1006 DC foi o resultado de uma supernova
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
- uma estrela que terminou a sua vida com uma explosão espectacular. Apesar de ter sido tão brilhante no século 11, a remanescente da supernova não é visível hoje.

Através de uma série de observações com telescópios do Cerro Tololo Inter-American Observatory
Cerro Tololo Inter-American Observatory (CTIO)
O CTIO é um observatório astronómico situado a 2200 m de altitude no Cerro Tololo, em pleno deserto de Atacana, a 80 km de La Serena (Chile). No observatório encontram-se vários telescópios ópticos e um radio telescópio. Desde Fevereiro de 2003, o CTIO só opera o telescópio Vitor Blanco, de 4 m, sendo os restantes telescópios (0,9 m, 1,3 m, e 1,5m) operados pelo consorte SMARTS. Dois outros telescópios, o Teelscópio Curtis Schmidt e o Teelscópio de Yale, de 1 m, encontram-se fechados. A sudeste de Cerro Tololo, fica o Cerro Pachon, local onde se encontram os telescópios Gemini Sul, de 8 m, e o SOAR, de 4 m.
(CTIO), no Chile, uma equipa liderada por F. Winkler (Middlebury College, EUA) descobriu uma camada de hidrogénio que brilha, circundando o local onde a estrela explodiu. Esta autêntica bolha de hidrogénio, com cerca do diâmetro angular da Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
cheia vista da Terra, encontra-se em expansão e é produzida pela onda de choque
onda de choque
Uma onda de choque é uma variação brusca da pressão, temperatura e densidade de um fluído, que se desenvolve quando a velocidade de deslocação do fluído excede a velocidade de propagação do som.
da explosão original, à medida que se propaga pelo gás extremamente ténue do espaço interestelar.

Os astrónomos utilizaram imagens de observações que abrangiam um intervalo de tempo de 11 anos para medir a velocidade de expansão dos filamentos mais brilhantes da bolha de hidrogénio. Outras observações espectroscópicas desses mesmos filamentos foram utilizadas para determinar o valor absoluto da velocidade da onda de choque. A velocidade calculada é de 2900 km/s, ou seja, quase 1% da velocidade da luz
velocidade da luz
A velocidade da luz é a rapidez com que se propagam as ondas luminosas (ou radiação electromagnética). No vácuo, é igual a 299 790 km/s, sendo independente do referencial considerado.
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Juntando informação sobre a taxa à qual a bolha distante parece estar a expandir-se e a verdadeira velocidade a que corresponde, os astrónomos utilizaram geometria simples para calcular a distância precisa a que a Terra se encontra da bolha. O resultado, 7100 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
, é também a distância a que a estrela explodiu. Isto quer dizer que a luz da supernova chegou à Terra em 1006 DC, mas a sua explosão tinha ocorrido 7100 anos antes.

Existem vários tipos diferentes de supernova, de acordo com a sua classificação espectral. A supernova observada em 1006 DC era do tipo Ia, que são espectacularmente brilhantes: durante semanas, uma supernova do tipo Ia
supernova Tipo Ia
Uma supernova de tipo I que não apresenta no seu espectro riscas espectrais de hidrogénio e de hélio, mas possui fortes riscas espectrais de silício.
brilha tanto quanto 5 mil milhões de sóis! Sabendo a distância à supernova e a luminosidade
luminosidade
A luminosidade (L) é a quantidade de energia que um objecto celeste emite por unidade de tempo e em determinado comprimento de onda, ou em determinada banda de comprimentos de onda.
padrão de uma supernova do tipo Ia, os astrónomos calcularam o brilho da estrela quando foi observada no século 11. Na escala astronómica de magnitudes, o brilho era de -7,5 magnitudes, ou seja, mais ou menos a meio entre o brilho de Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
e da Lua cheia.

O registo histórico mais explícito do brilho da estrela em 1006 é da autoria do físico e astrólogo egípcio Ali bin Ridwan, que o comparou, de facto, com o brilho de Vénus e da Lua.

Um artigo descrevendo estes resultados encontra-se na revista científica de astronomia The Astrophysical Journal de 1 de Março de 2003.

Fonte da notícia: http://www.noao.edu/outreach/press/pr03/pr0304.html