Galáxia descoberta pelo Subaru é a mais distante que se conhece

2003-04-01

As duas galáxias (a e b) recém formadas descobertas neste estudo. Três imagens de cada galáxia, obtidas através de filtros diferentes, estão ordenadas por comprimento de onda, desde os mais curtos (azuis) até aos maiores (vermelhos). As galáxias só brilham na imagem do meio, que corresponde ao filtro estreito NB921, sensível ao intervalo de comprimentos de onda entre 908 e 932 nm. As galáxias não são visíveis nem nos comprimentos de ondas do filtro azul i\', mas são levemente visíveis no filtro vermelho z\'. O campo destas imagens é de 10x10 segundos de arco. Crédito: Subaru Telescope, National Astronomical Observatory of Japan (NAOJ).
O Subaru Deep Field (SDF) é um projecto que visa dar uma utilização óptima ao telescópio Subaru
Subaru Telescope
O Telescópio Subaru é um telescópio óptico e de infravermelhos, com um espelho de 8,2 m de diâmetro. O Subaru encontra-se no Observatório de Mauna Kea, no Havai, e é operado pelo Observatório Astronómico Nacional do Japão – NAOJ e pelo Instituto Nacional de Ciências Naturais.
do Observatório Astronómico Nacional do Japão. O objectivo principal deste projecto é detectar com este telescópio de 8,2 metros de diâmetro, no Observatório de Mauna Kea (Havai), um elevado número de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
distantes. A procura de galáxias distantes é a procura de galáxias em tempos primordiais do Universo, pois detectar luz de uma galáxia a 13 mil milhões de anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
é observá-la como era há 13 mil milhões de anos.

O SDF tira partido do facto da luz proveniente de galáxias distantes produzir um espectro com uma forma característica. Os astrónomos acreditam que, quando o Universo era jovem, as galáxias rapidamente formaram estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
a partir do hidrogénio - a matéria dominante do Universo. A luz destas estrelas terá ionizado
ionização
Processo pelo qual um átomo (ou molécula) electricamente neutro ganha ou perde um ou mais electrões, transformando-se num ião.
, ou pelo menos excitado para estados de energia mais elevada qualquer hidrogénio que sobrasse à sua volta. Quando o hidrogénio excitado retorna a estados de energia mais baixa, emite luz em comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
específicos. No entanto, a maior parte dessa luz escapará da jovem galáxia como uma risca de emissão
risca de emissão
Uma risca de emissão é uma risca brilhante num espectro de luz. Corresponde à emissão de radiação num determinado comprimento de onda devido à transição de um electrão de um nível energético mais elevado para um nível energético mais baixo de um átomo ou molécula. As riscas de emissão, tal como as de absorção, contêm informação sobre a composição química e as condições físicas do material que as produzem.
a 122 nm
nanómetro (nm)
O nanómetro (nm) é uma unidade de comprimento igual a um milionésimo do milímetro: 1nm = 10-6mm = 10-9m.
porque luz mais azul do que esta, com comprimentos de onda menores e mais energia, pode re-excitar outros átomos
átomo
O átomo é a menor partícula de um dado elemento que tem as propriedades químicas que caracterizam esse mesmo elemento. Os átomos são formados por electrões à volta de um núcleo constituído por protões e neutrões.
de hidrogénio e por isso é absorvida antes de chegar a nós.

Como o Universo está em expansão, quanto mais longe estiver uma galáxia de nós, mais depressa esta se afasta. Devido a este movimento, a luz proveniente de galáxias distantes tem um desvio para o vermelho
desvio para o vermelho (z)
Designa-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
, ou seja, o desvio no comprimento de onda devido ao efeito de Doppler é na direcção dos comprimentos de onda maiores. Assim, a risca de emissão dos 122 nm é desviada para um comprimento de onda maior, característico da distância a que se encontra a galáxia; e pelo mesmo motivo, a própria galáxia aparece avermelhada.

Mais ainda, à medida que a luz viaja a longa distância desde a sua origem até à Terra, a luz do lado mais energético da risca de emissão, que é o lado mais azul, pode ser absorvido pelo hidrogénio neutro do espaço intergaláctico; esta absorção
absorção de radiação
A absorção de radiação é um decréscimo da intensidade da radiação devido à energia dispendida na excitação ou ionização de átomos e moléculas do meio que atravessa.
dá à risca de emissão um aspecto assimétrico distinto. Resumindo, uma aparência geral vermelha, uma risca de emissão forte num comprimento de onda particular e uma forma distinta de assimetria nessa risca é a assinatura de uma galáxia distante recentemente formada.

Sabendo isto, para detectar as galáxias mais distantes, a equipa do SDF desenvolveu um filtro especial que só deixa passar luz num estreito intervalo de comprimentos de onda entre os 908 e 938 nm. Estes comprimentos de onda correspondem à risca de emissão dos 122 nm depois de atravessarem uma distância de 13 mil milhões de anos-luz. Este filtro foi utilizado na câmara Suprime do telescópio Subaru, juntamente com outros dois filtros, um azul e outro vermelho, num programa de observação intensivo, de Abril a Maio de 2002.

Esta câmara tem a capacidade de mapear um campo tão grande quanto a lua cheia
Lua Cheia
Lua Cheia é a fase da Lua quando esta se encontra em oposição relativamente ao Sol; quando observada a partir da Terra, a Lua exibe toda a sua superfície iluminada.
. Numa exposição de 5,8 horas, encontraram 50 000 objectos, incluindo galáxias distantes. As galáxias distantes foram seleccionadas por serem brilhantes principalmente no filtro especial e por serem preferencialmente vermelhas. A equipa encontrou 70 galáxias candidatas a desvios para o vermelho de 6,6 - ou seja, a distâncias de 13 mil milhões de anos-luz!

Em Junho de 2002, estes astrónomos utilizaram o espectrógrafo do Subaru, o FOCAS (do inglês Faint Object CAmera and Spectrograph) e observaram 9 das 70 candidatas. A aparência geral avermelhada e a risca de emissão com a distinta assimetria foi confirmada em dois desses objectos e o seu desvio para o vermelho foi determinado como sendo 6,58 e 6,54. Ou seja, a luz destas galáxias foi emitida há 12,8 mil milhões de anos, quando o Universo só tinha 900 milhões de anos. A galáxia com o desvio para o vermelho de 6,58 é a galáxia mais distante que se conhece hoje.

Fonte da notícia: http://subarutelescope.org/Latestnews/200303/SDF