A Terra tem um núcleo central de ferro, sólido no interior e líquido nas regiões mais exteriores. Este poderá também ser o caso de Marte, segundo um novo estudo realizado por investigadores do Laboratório de Propulsão a Jacto (NASA), liderados por C. Yoder. Os resultados encontram-se na edição online de Março do jornal Science.

A equipa utilizou o sinal de rádio emitido pela sonda Mars Global Surveyor (NASA) para determinar com precisão a órbita da sonda à volta de Marte. Analisando dados relativos a 3 anos, puderam calcular as alterações da órbita devido ao efeito de maré que o Sol provoca em Marte. Embora essa influência seja muito pequena na sonda, é detectável: em um mês, altera de um milésimo de grau a inclinação da órbita da sonda em torno de Marte.

É comum associar as marés na Terra somente à influência gravitacional da Lua nos oceanos. Mas, na verdade, é um fenómeno mais abrangente: também o Sol, embora em menor escala (o seu efeito de maré na Terra é 48% do efeito da Lua), provoca forças de maré que distorcem não só os oceanos, mas todo o planeta, incluindo o seu interior. Em Marte, a influência gravitacional do Sol provoca um bojo muito pequeno, com menos de um centímetro - o bojo é a deformação física na forma do planeta provocada pela força de maré. Medindo o bojo de Marte, pode-se determinar quão flexível é o interior do planeta.

Para o estudo sobre o núcleo de Marte, os investigadores combinaram informação sobre a precessão de Marte, obtida com a Mars Pathfinder (NASA), com a detecção da alteração da órbita da Global Surveyor. O movimento de precessão do eixo de rotação dum planeta é causado pela interacção gravitacional do Sol e dos satélites no planeta. É um movimento lento, que descreve uma superfície cónica imaginária (em torno da normal ao plano da sua órbita) no espaço - em Marte, uma rotação completa do seu eixo demora 170 000 anos! O ritmo de precessão indica quanto da massa do planeta está concentrada no seu centro - uma maior velocidade de precessão indica um núcleo maior e mais denso quando comparado com uma precessão mais lenta.

As medições obtidas levaram estes investigadores a concluir que o núcleo de Marte não pode ser de ferro sólido, mas terá de ser, pelo menos, parcialmente líquido. Marte não arrefeceu o seu núcleo o suficiente para este solidificar e, por isso, o seu interior é constituído, ou por um núcleo de ferro completamente líquido, ou por um núcleo sólido, no centro, rodeado por uma camada líquida.

Os resultados indicam ainda que o tamanho do núcleo central é cerca de metade do planeta, tal como no caso da Terra e Vénus. Também revelam que o núcleo é composto, para além de ferro, por uma fracção significativa de elementos mais leves, como por exemplo, enxofre.

Para além de detectar a força de maré em Marte, a Global Surveyor foi capaz de estimar a quantidade de gelo sublimado (passado directamente para o estado gasoso) de um pólo para a atmosfera e, depois, capturado pelo pólo oposto. Os resultados indicam que a transferência de massa da calota de gelo de dióxido de carbono do sul é 30 a 40 % maior do que a da calota do norte, o que está de acordo com o que os modelos globais de atmosferas de Marte prevêem.

Fonte da notícia: http://www.jpl.nasa.gov/releases/2003/32.cfm