O relógio terrestre da Vida: terá já começado o "fim do mundo"?

2003-02-27

Ilustração retirada do livro The Life and Death of Planet Earth que mostra o \"relógio da Vida na Terra\" segundo os autores. Crédito: D. Brownlee & P. Ward (Universidade de Washington em Seattle, EUA).
Ao longo dos seus 4,5 mil milhões de anos de evolução, a Terra passou de planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
extremamente quente e violento, aquando da sua formação, a planeta aprazível coberto de oceanos de água líquida. Num novo livro agora lançado, intitulado The Life and Death of Planet Earth, dois investigadores da Universidade de Washington em Seattle (EUA) afirmam que o planeta entrou já na sua curva descendente, num longo processo que o levará a, eventualmente, ser engolido pelo Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
quando este entrar na fase de gigante vermelha
estrela gigante vermelha
As estrelas gigantes vermelhas são estrelas gigantes com temperaturas à superfície entre 2500 e 3500°C, do tipo espectral M ou K. As estrelas gigantes são um estado evoluído de estrelas anãs, como o Sol - as estrelas anãs, ao terminarem o processo de fusão de hidrogénio no seu núcleo, arrefecem e expandem-se, evoluindo para estrelas gigantes. Um dos seguintes processos, ou os dois, ocorre agora: a fusão de hidrogénio em hélio numa camada à volta do núcleo; a fusão de hélio em carbono e oxigénio no núcleo. As estrelas gigantes são muito luminosas: num diagrama Hertzsprung-Russell, o ramo das estrelas gigantes é mais luminoso do que a sequência principal.
.

Neste livro, os autores usam o actual entendimento científico dos planetas e estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, bem como dos parâmetros da Vida, para nos darem um olhar sobre aquilo que deverá ser a segunda metade da vida no planeta Terra e do que virá depois. O livro, uma espécie de biografia do nosso planeta, foi lançado pela editora norte-americana Times Books e vem no seguimento da sua muito discutida obra Rare Earth, que foi best-seller, e na qual os autores avançam a hipótese de que organismos vivos simples são relativamente comuns no universo, mas organismos complexos, como conhecemos hoje na Terra, deverão ser extremamente raros.

De acordo com D. Brownlee e P. Ward, respectivamente astrofísico e paleontólogo, se tomarmos todo o tempo de vida (passada e futura) do nosso planeta como sendo as 12 horas dum relógio (sendo que então cada hora corresponde a cerca de mil milhões de anos), a Terra ter-se-á formado à meia-noite e está actualmente nas 4h30 da madrugada. Às 5h da manhã, o reinado das plantas e animais, com uma duração de mil milhões de anos, terá o seu fim. Pelas 8h da manhã, os oceanos já terão sido evaporados, e ao meio dia, depois de 12 mil milhões de anos, o Sol, transformado numa gigante vermelha, consumirá o planeta.

À medida que o Sol se torna maior, engolirá Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
e Vénus
Vénus
É o segundo planeta mais próximo do Sol. Em termos de dimensões e massa é muito semelhante à Terra. A sua caracteristica mais marcante é possuir uma atmosfera de CO2 muito densa e um efeito de estufa muito intenso.
. É possível que fique por aí, mas as condições seriam ainda demasiado inóspitas para que a Terra pudesse continuar habitada. Mas, provavelmente, o Sol acabará por consumir também a Terra, destruindo as ligações químicas entre moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
e ejectando os seus átomos
átomo
O átomo é a menor partícula de um dado elemento que tem as propriedades químicas que caracterizam esse mesmo elemento. Os átomos são formados por electrões à volta de um núcleo constituído por protões e neutrões.
constituintes de volta para o espaço. Isso deixaria Marte
Marte
Marte é o quarto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. É o último dos chamados planetas interiores. O seu diâmetro é cerca de 50% mais pequeno do que o da Terra e possui uma superfície avermelhada, sendo também conhecido como planeta vermelho.
como o planeta mais próximo do Sol, e em Marte o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
do Sol ao desvanecer seria equivalente ao brilho da Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
cheia aqui na Terra.

Os autores defendem que as perspectivas de que os humanos possam sobreviver mediante deslocação para um outro planeta, ou lua, habitável, não são boas, pela simples razão de que, ainda que existisse e fosse encontrado um tal mundo, chegar lá seria um enorme obstáculo. Várias sondas enviadas para escapar da Terra moribunda poderiam sobreviver, mas apenas alguns gramas de material poderiam, discutivelmente, transportar uma amostra de DNA de cada humano. Mas é pouco provável que a espécie humana, ela própria, sobreviva. Muito antes do final do planeta, a vida ter-se-à tornado num autêntico desafio, acabando por tornar-se impossível para o Homem.

Brownlee e Ward afirmam que é bem possível que a última forma de vida na Terra seja muito semelhante às primeiras formas que apareceram - bactérias unicelulares - sobreviventes e descendentes de todos os que vieram antes. De facto, a miríade de formas vivas existentes hoje na Terra foi precedida por um longo período de domínio dos micróbios e estes cientistas argumentam que formas complexas de vida irão eventualmente desaparecer dando lugar, mais uma vez, a um período no qual sobrevive apenas a vida microbiana.

O fim está ainda a 7,5 mil milhões de anos, mas, até lá chegarmos, o nosso planeta assistirá a sucessivos e variados "fins" pelo caminho. O último dinossauro desapareceu há muito. Ainda para vir, estão o último elefante, a última árvore, a última flor, o último glaciar, o último floco de neve, o último oceano, a última forma de vida. O Sol, que trouxe vida ao nosso planeta, acabará por trazer a morte.

Que possamos todos compreender, de uma vez por todas, que vivemos, de facto, num local fabuloso e numa altura fabulosa. Habitamos um autêntico tesouro no espaço e no tempo. Talvez assim saibamos, plenamente, apreciar e proteger este nosso planeta.

Fonte da notícia: http://www.washington.edu/newsroom/news/2003archive/01-03archive/k011303a.html

The Life and Death of Planet Earth, os autores defendem que a Terra já entrou naquilo que se pode considerar ser a sua curva descendente."> The Life and Death of Planet Earth, os autores defendem que a Terra já entrou naquilo que se pode considerar ser a sua curva descendente."> The Life and Death of Planet Earth, os autores defendem que a Terra já entrou naquilo que se pode considerar ser a sua curva descendente."> The Life and Death of Planet Earth, os autores defendem que a Terra já entrou naquilo que se pode considerar ser a sua curva descendente.">