Astrónomos da Universidade do Colorado, em Boulder (EUA), descobriram aquilo que julgam ser dezenas de potenciais casulos proto-estelares no interior hostil de uma enorme região de formação de estrelas, a nebulosa da Quilha (NGC 3372). Esta nebulosa encontra-se cinco vezes mais afastada do que a Grande Nebulosa de Orionte (M 42), estando situada num outro braço espiral da nossa galáxia, a uma distância de 7 300 anos-luz.

Esta é a primeira grande população deste tipo de objectos descoberta fora da Grande Nebulosa de Orionte (M 42), a maternidade de estrelas de massa elevada mais próxima que se conhece. Cada um destes casulos agora descobertos pode albergar discos de gás e poeira circum-estelares que podem vir a dar origem a sistemas planetários.

Localizada no céu do Sul, NGC 3372 é o lar da famosa estrela de massa elevada Eta Carinae, para além de outras 60 estrelas muito quentes e de massa elevada. A descoberta de discos protoplanetários nesta nebulosa é inesperada uma vez que as condições físicas aí existentes são muito mais extremas do que em M 42, isto é, os discos na Quilha deveriam evaporar-se mais rapidamente à medida que são dissipados pela radiação ultravioleta das estrelas muito quentes.

Estes novos casulos proto-estelares - descobertos a partir de observações feitas pelo telescópio Blanco de 4 m (NOAO), no Cerro Tololo Interamerican Observatory, no Chile - são intrigantes na medida em que se encontram na vizinhança de várias estrelas de entre as mais quentes e de maior massa que se conhece na nossa galáxia. Isto pode significar que os sistemas planetários são mais resistentes ou mais comuns do que se pensa.

Por outro lado, são ainda intrigantes pelo facto de terem tamanhos cerca de 5 a 10 vezes superiores aos objectos similares em M 42. Uma possível explicação pode ser o facto dos discos protoplanetários da Quilha terem massas superiores aos discos em M 42, uma vez que a região da Quilha parece gerar estrelas com massas mais elevadas. Os discos protoplanetários da nebulosa da Quilha possuem diâmetros entre 2000 e 10 000 AU, embora objectos mais pequenos, que estejam para além do poder de resolução do telescópio Blanco, possam certamente existir. Por outras palavras, os maiores discos da nebulosa da Quilha são, tipicamente, 100 vezes maiores que o nosso sistema solar.

Além disso, enquanto que alguns destes novos discos apresentam formas semelhantes aos discos na nebulosa M 42, outros possuem cabeças relativamente grandes e esféricas, com caudas finas (ver imagem), e há pelo menos um caso com duas caudas (embora estas possam ser, neste caso, jactos bipolares que só poderão ser revelados em imagens mais detalhadas).

O estudo destes novos discos protoplanetários da nebulosa da Quilha pode dizer-nos muito acerca da probabilidade de sobrevivência de sistemas planetários em estágio embrionário em ambientes tão hostis. Mas, para tal, são necessárias observações muito detalhadas de cada um destes novos objectos, algo que está além das capacidades do telescópio Blanco de 4 m, dada a distância a que se encontra a nebulosa da Quilha. Estes sistemas protoplanetários serão certamente observados futuramente pelo Hubble (NASA/ESA) e pelos maiores telescópios em observatórios terrestres, como o Keck (Havai, EUA) e o VLT (ESO).

Fonte da notícia: http://www.noao.edu/outreach/press/pr03/pr0301.html