NASA resolve enigma acerca da Lua que durava há meio século

2003-03-05

Fotografia da Lua efectuada em 1953 por Leon Stuart. Claramente visível nesta imagem, a mancha esbranquiçada (à direita do centro da imagem) resulta do único impacto dum asteróide na Lua directamente testemunhado pelo Homem. Crédito: Leon Stuart.
Nas primeiras horas da madrugada do dia 15 de Novembro de 1953, o Dr. Leon Stuart, um astrónomo amador do Oklahoma (EUA), fotografou aquilo que lhe pareceu ser uma grande bola de fogo, provocada por rocha incandescente, surgindo bem no centro da face da Lua
Lua
A Lua é o único satélite natural da Terra.
. A ser verdade, Stuart seria o primeiro, e único, em toda a história da Humanidade, a presenciar e documentar o impacto de um objecto do tamanho de um asteróide
asteróide
Um asteróide é um pequeno corpo rochoso que orbita em torno do Sol, com uma dimensão que pode ir desde os 100 m até aos 1000 km. A maioria dos asteróides encontra-se entre as órbitas de Marte e de Júpiter. Também são designados por planetas menores.
na superfície da Lua.

Passados 50 anos e depois de numerosas sondas espaciais, incluindo seis missões tripuladas à Lua, o chamado "Evento de Stuart" permaneceu apenas uma hipótese controversa que carecia de comprovação. Os mais cépticos não deram muita importância ao caso por julgarem que os dados de Stuart não só eram inconclusivos, como o clarão observado seria provavelmente devido a um meteorito
meteorito
Um meteorito é um corpo sólido que entra na atmosfera da Terra (ou de outro planeta), sendo suficientemente grande para não ser totalmente destruído pela fricção com as partículas da atmosfera, e assim atingir o solo. Os meteoritos dividem-se em três categorias, segundo a sua composição: aerolitos (rochosos), sideritos (ferro) e siderolitos (ferro e rochas).
a entrar na atmosfera da Terra
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
.

Recentemente, porém, os investigadores B. J. Buratti, do Laboratório de Propulsão a Jacto (NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
), e L. Johnson, do Pomona College (EUA), decidiram pegar neste enigma de um outro ponto de vista, tomando a fotografia obtida por Stuart como ponto de partida. Segundo estes cientistas, a fotografia do impacto obtida por Stuart permitiu-lhes estimar a energia produzida pela colisão. Mas os seus cálculos indicaram que qualquer cratera resultante de uma tal colisão seria demasiado pequena para poder ser observada a partir da Terra, por muito bom que fossse o telescópio utilizado, incluindo os melhores e gigantescos telescópios actuais.

Lembraram-se, então, de analisar a região de 35 km de diâmetro, na qual se teria dado o impacto, usando os dados das sondas lunares. Primeiro, inspeccionaram imagens da sonda Lunar Orbiter (NASA) obtidas em 1967, mas não identificaram nenhuma cratera plausível. Então, viraram-se para os dados mais detalhados da Clementine (NASA) obtidos em 1994.

A partir da fotografia obtida por Stuart, estimaram o tamanho do asteróide em cerca de 20 m, sendo que a cratera resultante do impacto deste objecto deveria ter um diâmetro entre 1 e 2 km. Com esta informação, Buratti e Johnson procuraram crateras com estes tamanhos que não mostrassem ter sofrido já alguma erosão. Uma cratera que não sofreu ainda erosão possui na superfície um tipo de solo distincto no que toca às suas propriedades de reflexão da luz, isto é, reflecte mais luz do que um solo já exposto à erosão.

Com as imagens da Clementine, estes cientistas conseguiram identificar uma cratera, com 1,5 km de diâmetro e com as tais características desejadas, precisamente na região do clarão fotografado por Stuart em 1953. O tamanho da cratera é consistente com a energia produzida pelo clarão, possui a mesma reflectividade e apresenta ainda a forma esperada. A energia que deverá ter sido libertada desta colisão foi estimada em cerca de meia megatonelada
megatonelada (Mt)
Uma megatonelada (Mt) é a energia da explosão de um milhão de toneladas de TNT, que corresponde a cerca de 4,2 x 1015 J.
de TNT (o equivalente a 35 vezes a bomba atómica de Hiroshima). Além disso, Buratti e Johnson estimam que uma tal colisão na superfície da Lua deve ocorrer uma vez em cada meio século.

Esta descoberta reveste-se de particular importância, muito para além de resolver um enigma que durava há já meio século. É que isto significa que, ao contrário do que se pensava, a Lua não está geologicamente morta. Os resultados desta pesquisa foram publicados na revista da especialidade Icarus.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/HP_news_03077.html