Como se sabe, jactos gigantes de partículas subatómicas movendo-se a velocidades próximas da velocidade da luz foram já encontrados em inúmeras galáxias por todo o Universo. Os astrónomos acreditam que estes jactos têm origem nos núcleos dessas galáxias, onde buracos negros de massa muito elevada fornecem a tremenda quantidade de energia gravitacional necessária para acelerar as partículas a velocidades tão elevadas. Estes jactos surgem-nos sempre como muito colimados (isto é, espacialmente muito estreitos), e isto deve-se aos campos magnéticos muito intensos cujas linhas de campo são continuamente retorcidas pelo disco de matéria existente em redor do buraco negro central.

Apesar dos astrónomos acreditarem que as galáxias espirais, como as elípticas, possuem buracos negros no seu centro, a verdade é que os enormes jactos até agora conhecidos estão sempre associados a galáxias elípticas ou a galáxias em colisão, mas nunca a galáxias espirais.

Usando a potência combinada do telescópio espacial Hubble (NASA/ESA), do radiointerferómetro Very Large Array

Very Large Array (VLA)
O VLA é um radiointerferómetro composto por 27 antenas de 25 m de diâmetro, dispostas em três braços (em forma de Y) com 9 antenas cada, localizado no Novo México (EUA). O VLA é operado pelo NRAO (National Radio Astronomy Observatory).

(VLA, NRAO) no Novo México (EUA), e do telescópio de 8 m Gemini (AURA), no Chile, uma equipa de astrónomos liderada por W. Keel da Universidade do Alabama (EUA) descobriu que um enorme jacto, já identificado em observações com o VLA em meados dos anos 90, está de facto associado a uma galáxia espiral. Esta galáxia, semelhante à Via Láctea, é designada por 0313-192.

Contudo, não foi de todo trivial concluir que 0313-192 é uma galáxia espiral. Na verdade, foram necessários mais de dez anos de pesquisa! No início dos anos 90, M. Ledlow, do Observatório Gemini, obteve imagens de 0313-192 na banda do visível. Estas imagens mostraram que a galáxia, que se sabia conter um jacto de acordo com os resultados do VLA, era provavelmente uma espiral. No entanto, a confirmação final só foi possível com as imagens obtidas com a nova câmara Advanced Camera for Surveys (ACS) instalada no telescópio espacial Hubble no ano passado, e com imagens no infravermelho obtidas pelo telescópio Gemini.

Os astrónomos tentam agora perceber porque razão esta galáxia espiral, ao contrário de todas as outras espirais conhecidas, produz um enorme jacto.

A galáxia 0313-192 encontra-se a uma distância de cerca de mil milhões de anos-luz e pertence ao aglomerado de galáxias Abell 428. Para que possamos ver os enormes jactos tão comuns nas galáxias elípticas, é necessária a pressão do meio intergaláctico existente no seio dum enxame de galáxias pois, caso contrário, as partículas e o campo magnético seriam rapidamente dispersados e os jactos não perdurariam.

Contudo, não é de esperar que uma galáxia espiral sobreviva no seio de um aglomerado denso, pois o intenso campo de radiação desse meio deverá, no decorrer do tempo, destruir o gás e a poeira dos braços espirais dessa galáxia. Por não ser um aglomerado denso, mas antes um conjunto de pequenos grupos de galáxias fracamente ligados gravitacionalmente entre si, o aglomerado Abell 428 pode ser precisamente aquele tipo de aglomerado que proporciona o ambiente ideal para que a espiral sobreviva, mas que seja também capaz de fornecer ainda a pressão necessária para que um jacto se mantenha.

Em todo o caso, este exemplo único de uma galáxia espiral com jacto levanta questões importantes quanto aos mecanismos de produção de jactos em galáxias activas.

Fonte da notícia: http://www.aoc.nrao.edu/epo/pr/2003/spiraljet/