Canibalismo galáctico aqui ao lado

2003-02-11

Imagem de M 31, resultante de um mosaico de 60 imagens de CCD obtidas com o telescópio Burrell Schmidt, no observatório de Kitt Peak (NOAO), no Arizona. Crédito: P. Choi and P. GuhaThakurta (UCSC).
A galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
da Andrómeda (ou M 31
M31 (NGC 224) - Galáxia de Andrómeda
M31 é a galáxia de Andrómeda, a maior galáxia do chamado Grupo Local de galáxias. É uma galáxia espiral gigante, situada a uma distância de 2,4 milhões de anos-luz.
) é a galáxia de grande dimensão mais próxima da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
. O estudo de M 31 oferece aos astrónomos uma perspectiva externa de uma galáxia muito parecida com a nossa. Galáxias espirais, como a da Andrómeda e a Via Láctea, possuem estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
jovens distribuídas num disco plano com braços espirais
braço espiral
Um braço espiral de uma galáxia é uma estrutura curva no disco de uma galáxia espiral (ou, em alguns casos, de uma galáxia irregular), constituída por estrelas jovens, aglomerados de estrelas, nebulosas, gás e poeiras.
, e exibem, ainda, um halo esférico de estrelas dispersas à volta do disco.

No ano passado, um grupo de investigadores europeus, liderado por R. Ibata (Observatório de Estrasburgo, França), mapeou a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
de estrelas no halo de Andrómeda. A imagem final revelou uma proeminente torrente de estrelas que se julga constituir os restos de uma galáxia menor que foi engolida por Andrómeda há muito tempo.

No último encontro da Sociedade Americana de Astronomia, em Janeiro de 2003, um outro grupo, formado por P. GuhaThakurta (Universidade da Califórnia em Santa Cruz, EUA) e D. Reitzel (Universidade da Califórnia em Los Angeles, EUA), apresentou um novo trabalho de investigação que revela uma outra torrente de estrelas, totalmente independente da descoberta no ano passado. Esta nova torrente de estrelas é muito mais subtil, ao ponto de não ter sido detectada pelo trabalho anterior.

Utilizando espectrógrafos nos telescópios de 10 m do Observatório W. M. Keck
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
(Caltech/NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
) no Havai (EUA), estes investigadores estudaram 4 campos ao longo de uma linha de visão que começa no centro da galáxia e atravessa o halo. Os espectros permitem deduzir propriedades importantes relativamente ao movimento e à composição química das estrelas. As estrelas do halo de Andrómeda apresentam toda uma variedade de composições químicas e os seus movimentos relativos são aleatórios. No entanto, um grupo destas estrelas, as quimicamente mais ricas, destacou-se devido ao facto dos seus elementos possuírem todos a mesma velocidade e formarem uma torrente.

Os investigadores acreditam que se trata de destroços de uma pequena galáxia, quimicamente rica, que terá sido engolida por Andrómeda. No processo de fusão
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
das galáxias, a galáxia menor é desfeita, mas as suas estrelas terão guardado memória das suas velocidades originais e continuam a mover-se como um grupo coerente. O rasto encontrado é muito ténue, pois só cerca de 10% das estrelas na direcção da torrente lhe pertencem de facto. Uma vez que, ao longo do tempo, os destroços misturam-se com o resto da galáxia grande e os seus vestígios tornam-se mais fracos, não se sabe se esta torrente descoberta é ténue por resultar duma fusão muito antiga, ou porque a galáxia engolida era muito pequena.

Este trabalho focou apenas uma estreita secção da galáxia. O facto de, ainda assim, se terem encontrado vestígios de uma fusão sugere que possam existir muitos mais destroços ténues, ainda não detectados, no resto da galáxia. Se assim for, a teoria de que as grandes galáxias espirais crescem alimentando-se de galáxias menores terá mais um argumento a favor. O levantamento de estrelas no halo de M 31 prossegue agora com os dois grupos trabalhando em colaboração. Espera-se que havendo dados referentes a toda a galáxia se possa descrever a história da evolução da galáxia da Andrómeda.

Fonte da notícia: http://www.ucsc.edu/news_events/press_releases/text.asp?pid=266