Qual a velocidade de propagação da gravidade?
2003-02-04
Imagem do quasar J0842+1835 obtida pelo VLBA. Crédito: NRAO/AUI/NSF.
Teoria da Relatividade Geral
A Teoria da Relatividade Geral foi formulada por Albert Einstein em 1916 como expansão da Teoria da Relatividade Restrita (formulada em 1905) de forma a incluir o efeito da gravitação no espaço-tempo. Esta teoria propõe que o espaço-tempo é uma estrutura quadri-dimensional cuja curvatura é determinada pela presença de matéria. Neste sentido, a gravitação manifesta-se como curvatura do espaço-tempo, e não como uma força entre duas massas.
, assumiu que a sua velocidade de propagação igualava a velocidade da luzA Teoria da Relatividade Geral foi formulada por Albert Einstein em 1916 como expansão da Teoria da Relatividade Restrita (formulada em 1905) de forma a incluir o efeito da gravitação no espaço-tempo. Esta teoria propõe que o espaço-tempo é uma estrutura quadri-dimensional cuja curvatura é determinada pela presença de matéria. Neste sentido, a gravitação manifesta-se como curvatura do espaço-tempo, e não como uma força entre duas massas.
velocidade da luz
A velocidade da luz é a rapidez com que se propagam as ondas luminosas (ou radiação electromagnética). No vácuo, é igual a 299 790 km/s, sendo independente do referencial considerado.
. Recentes teorias de unificação (teorias que tentam combinar a gravidade com as outras forças fundamentais da natureza: electromagnética, nuclear forte e nuclear fraca), têm desafiado este pressuposto. Por exemplo, as teorias de brane, que teorizam que múltiplos universos existem como membranas num hiperespaço multidimensional, permitem assumir que a gravidade se propaga entre diferentes dimensões a uma velocidade maior que a da luz, sem violar as equações da relatividade geral. Como até agora nunca ninguém tinha medido a velocidade a que se propaga o efeito gravitacional, estas teorias têm sido consideradas possíveis.
A velocidade da luz é a rapidez com que se propagam as ondas luminosas (ou radiação electromagnética). No vácuo, é igual a 299 790 km/s, sendo independente do referencial considerado.
No último encontro da Sociedade Americana de Astronomia, que decorreu em Janeiro, Sergei Kopeikin (Universidade do Missouri, EUA) e Ed Fomalont (Observatório Nacional de Radioastronomia, EUA) anunciaram que mediram a velocidade com que a força da gravidade se propaga, dando um valor numérico a um das últimas constantes fundamentais da física a ser medida.
Kopeikin trabalhou as equações da teoria de Einstein de modo a expressar o campo gravitacional de um corpo em movimento em termos da sua massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
, velocidade, e velocidade de propagação da gravidade. Se conseguisse medir o campo gravitacional de um corpo em movimento e se soubesse a sua massa, poderia calcular a velocidade a que se propaga a gravidade. Para passar da teoria à experiência, Kopeikin estudou e previu a órbitaA massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de JúpiterA órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
, o maior planetaJúpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
do nosso sistema solarUm planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, para os próximos 30 anos. Descobriu que o planeta gigante passaria em Setembro de 2002 em frente de um quasarO Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
quasar
Os quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
brilhante (galáxiaOs quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
muito distante com núcleo activo e forte emissora de ondas rádioUm vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
). Quando Júpiter eclipsasse o quasar J0842+1835, as ondas de rádio provenientes deste seriam ligeiramente encurvadas devido ao efeito de lente gravitacionalO rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
efeito de lente gravitacional
O efeito de lente gravitacional consiste na deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional muito forte de um objecto que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Por exemplo, uma galáxia, ou um enxame de galáxias, que se encontre entre nós e um objecto astronómico muito distante, como um quasar, pode actuar como uma lente gravitacional. Tipicamente, o efeito de lente gravitacional faz com que se observe, numa única fotografia, mais do que uma imagem do mesmo objecto.
introduzido por Júpiter e pareceria que o quasar se movia no céu.
O efeito de lente gravitacional consiste na deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional muito forte de um objecto que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Por exemplo, uma galáxia, ou um enxame de galáxias, que se encontre entre nós e um objecto astronómico muito distante, como um quasar, pode actuar como uma lente gravitacional. Tipicamente, o efeito de lente gravitacional faz com que se observe, numa única fotografia, mais do que uma imagem do mesmo objecto.
No entanto, o efeito na posição aparente do quasar no céu atribuível à velocidade de propagação da gravidade seria tão pequena que a única técnica capaz de o medir seria a interferometria
interferometria
A interferometria é uma técnica de observação baseada em padrões de interferência causados pela combinação de ondas electromagnéticas: quando duas ondas estão em fase, o sinal é mais forte e diz-se que a interferência é construtiva; quando as duas ondas estão exactamente fora de fase, a interferência é destrutiva e não há sinal.
de linha de base muito longa, ou VLBIA interferometria é uma técnica de observação baseada em padrões de interferência causados pela combinação de ondas electromagnéticas: quando duas ondas estão em fase, o sinal é mais forte e diz-se que a interferência é construtiva; quando as duas ondas estão exactamente fora de fase, a interferência é destrutiva e não há sinal.
Very Long Baseline Interferometry (VLBI)
O VLBI é uma técnica de observação que consiste em utilizar vários radiotelescópios em interferometria de grande linha de base de forma a obter uma imagem com uma resolução equivalente a um telescópio de diâmetro igual à maior separação entre as antenas individuais. Redes de VLBI incluem: a European VLBI Network (EVN), com radiotelescópios espalhados pela Europa, Ásia, África do Sul e Porto Rico; a Global-VLBI, que junta o EVN com o VLBA; o Space-VLBI, que inclui um radiotelescópio espacial de 8 m, permitindo linhas de base até três vezes as permitidas pelas redes VLBI terrestres.
(do inglês Very Long Baseline Interferometry). Com a colaboração de Fomalont, um perito em interferometria, apercebeu-se que nem o VLBAO VLBI é uma técnica de observação que consiste em utilizar vários radiotelescópios em interferometria de grande linha de base de forma a obter uma imagem com uma resolução equivalente a um telescópio de diâmetro igual à maior separação entre as antenas individuais. Redes de VLBI incluem: a European VLBI Network (EVN), com radiotelescópios espalhados pela Europa, Ásia, África do Sul e Porto Rico; a Global-VLBI, que junta o EVN com o VLBA; o Space-VLBI, que inclui um radiotelescópio espacial de 8 m, permitindo linhas de base até três vezes as permitidas pelas redes VLBI terrestres.
Very Large Baseline Array (VLBA)
O VLBA é um sistema de dez radiotelescópios, espalhados pelos EUA continental e os seus territórios nas Ilhas Virgens e no Havai. Os radiotelescópios podem operar simultaneamente e são controlados remotamente em Socorro (Novo México). Cada estação do VLBA consiste numa antena com um prato de 25 m e um edifício de controlo. O VLBA é operado pela NRAO (National Radio Astronomy Observatory).
(do inglês Very Long Baseline Array), um sistema de 10 radiotelescópios a trabalharem em conjunto espalhados pelos EUA e Ilhas Virgens, alcançava a precisão requerida para esta medição. Resolveram, então, adicionar mais um radiotelescópio para trabalhar com o VLBA, mas agora situado em Effelsberg (Alemanha), pois, para uma mesma frequênciaO VLBA é um sistema de dez radiotelescópios, espalhados pelos EUA continental e os seus territórios nas Ilhas Virgens e no Havai. Os radiotelescópios podem operar simultaneamente e são controlados remotamente em Socorro (Novo México). Cada estação do VLBA consiste numa antena com um prato de 25 m e um edifício de controlo. O VLBA é operado pela NRAO (National Radio Astronomy Observatory).
frequência
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
de observação, quanto maior a separação das radioantenas, maior o poder de resolução do conjunto.
Num fenómeno periódico, a frequência é o número de ciclos por unidade de tempo.
Assim, aproveitando o alinhamento cósmico raro, pois Júpiter só eclipsa um quasar em média uma vez por década, as observações realizadas mostraram que, com uma incerteza de 20%, o valor da velocidade da gravidade é o valor da velocidade da luz, tal como Einstein assumira.
Contudo, a apresentação deste trabalho tem sido alvo de críticas por parte de vários astrofísicos. Em particular, Clifford Will, um especialista na área, acredita que Kopeikin e Fomalont estão a interpretar erradamente as suas medições. O facto deste trabalho ainda não ter sido aceite para publicação em revistas com arbitragem científica mostra bem que o debate em torno desta questão não é de todo pacífico.
Não é a primeira vez que se recorre a Júpiter para produzir uma medição duma constante fundamental da física. Em 1675, Ole Roemer, um astrónomo dinamarquês trabalhando no Observatório de Paris, fez a primeira determinação precisa da velocidade da luz observando eclipses
eclipse
Um eclipse é uma ocultação total ou parcial de um corpo celeste, quando outro corpo passa entre este e o observador.
de uma das luas de Júpiter.
Um eclipse é uma ocultação total ou parcial de um corpo celeste, quando outro corpo passa entre este e o observador.
Fonte da notícia: http://www.aoc.nrao.edu/epo/pr/2003/gravity/