Uma equipa de astrónomos europeus descobriu uma anã castanha a menos de 12 anos-luz do nosso Sol, designada por Epsilon Indi B. Esta é a anã castanha mais próxima de nós que se conhece e trata-se de uma companheira de uma bem conhecida estrela brilhante do céu do Sul, Epsilon Indi (agora designada por Epsilon Indi A), que antes se julgava ser uma estrela isolada. Este sistema binário é um dos 20 sistemas mais próximos de nós. A distância ao sistema, igual a 11,82 anos-luz, foi medida pelo satélite Hipparcos (ESA).

Esta descoberta baseou-se no facto deste sistema possuir um grande movimento próprio (isto é, movimenta-se rapidamente no céu). Em menos de 400 anos, este sistema percorre, na constelação do Índio onde se encontra, uma distância angular igual ao diâmetro da Lua (cerca de meio grau), o que corresponde a cerca de 4,7 segundos de arco por ano. Como referência, refira-se que a Próxima do Centauro, a estrela mais próxima do Sol (a 4,2 anos-luz), possui um movimento próprio de 3,8 segundos de arco por ano (corresponde a uma velocidade de 23 km/s em relação ao Sol, na direcção perpendicular à linha de visão). A estrela com o maior movimento próprio (10 segundos de arco por ano, ou 87 km/s relativamente ao Sol) é a estrela de Barnard, localizada a 6 anos-luz.

Claro que um grande movimento próprio pode ser devido a uma grande velocidade real do objecto, mas também pode ser apenas um efeito devido ao objecto se encontrar perto do Sistema Solar.

Há já algum tempo que astrónomos do Instituto de Astrofísica de Potsdam (Alemanha) procuravam, de forma sistemática, objectos de elevado movimento próprio que aparecessem nas placas fotográficas vermelhas (obtidas com filtro vermelho), mas não nas respectivas placas de filtro azul. Assim procuravam identificar objectos frios ainda desconhecidos na vizinhança do Sistema Solar. Epsilon Indi B foi descoberta nas placas fotográficas do SuperCOSMOS Sky Survey, do Instituto de Astronomia da Universidade de Edimburgo (Escócia). Quando confirmada nas imagens do Two Micron All Sky Survey (2MASS), um projecto de colaboração entre a Universidade do Massachussetts (EUA) e o Infrared Processing and Analysis Center (IPAC) no Instituto de Tecnologia da Califórnia (EUA), verificou-se tratar-se dum objecto muito mais brilhante no infravermelho do que no visível, com a assinatura de cor típica de uma anã castanha.

A princípio, os astrónomos julgaram tratar-se de um objecto isolado, mas a consulta de catálogos existentes permitiu concluir que a apenas 7 minutos de arco se encontrava uma estrela muito brilhante, Epsilon Indi. As estrelas possuem o mesmo movimento próprio, o que levou os cientistas a concluir que se tratava de facto dum sistema binário, no qual as componentes se encontram separadas por uma distância 1500 vezes superior à distância entre o Sol e a Terra.

Enquanto que Epsilon Indi A é uma estrela anã de classe espectral K5, com uma temperatura à superfície de 4000 °C, Epsilon Indi B possui uma massa igual a 45 vezes a massa de Júpiter e uma temperatura à superfície de apenas 1000 °C. Epsilon Indi B pertence à categoria das anãs T, uma classe de objectos que faz a separação entre o domínio das estrelas e o domínio dos planetas gigantes. Os resultados desta pesquisa serão publicados na revista europeia da especialidade, Astronomy & Astrophysics Letters.

Fonte da notícia: http://www.eso.org/outreach/press-rel/pr-2003/pr-01-03.html