Descoberto um novo planeta anão para lá de Neptuno

2016-07-12

Rendering da órbita de RR245 (linha laranja). O Centro de Planetas Menores descreve o objeto como o 18º maior da Cintura de Kuiper. Crédito: Alex Parker OSSOS team.
Uma equipa internacional de astrónomos descobriu um novo planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
anão em órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
no disco de pequenos mundos gelados que fica para lá de Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
. O novo objeto tem um diâmetro aproximado de 700 quilómetros e uma das maiores órbitas para um planeta anão. Foi descoberto com o CFHT (Telescópio do Canadá-França-Havai), em Mauna Kea, Havai, e através do levantamento OSSOS (Outer Solar System
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
Origins Survey
). O Centro de Planetas Menores da União Astronómica Internacional
International Astronomical Union (IAU)
A União Astronómica Internacional foi fundada em 1919, tendo por missão promover, coordenar e salvaguardar a Ciência da Astronomia, em todos os aspectos, através de colaboração internacional. Conta com mais de 8 300 membros individuais, e ainda com 66 países membros. É a entidade internacionalmente reconhecida como autoridade para a atribuição de designações de objectos celestes e de quaisquer características à sua superfície, como por exemplo crateras e vulcões.
atribuiu-lhe o nome provisório de 2015 RR245.

"Os mundos gelados para lá de Neptuno ajudam-nos a perceber como se formaram os planetas gigantes e se afastaram do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
. Ajudam-nos a traçar a história do Sistema Solar. Mas quase todos estes mundos gelados são pequenos e ténues. É muito emocionante termos encontrado um suficientemente grande e brilhante para que o possamos estudar em detalhe" disse Michele Bannister, da Universidade de Victoria, na Columbia Britânica, que faz parte da equipa do levantamento.

Foi JJ Kavelaars, do Conselho Nacional de Pesquisa do Canadá, quem, em fevereiro de 2016, viu pela primeira vez RR245, nas imagens do levantamento OSSOS obtidas em setembro de 2015. "Lá estava ele, no ecrã - um ponto de luz a mover-se tão lentamente que tinha de estar pelo menos duas vezes mais longe do Sol que Neptuno, " disse Bannister.

A equipa ficou ainda mais animada quando percebeu que a órbita do objeto atingia uma distância ao Sol 120 vezes superior à da Terra. O tamanho de RR245 ainda não é conhecido com exatidão, já que as suas propriedades de superfície precisam de medições mais precisas. "Tanto é pequeno e brilhante, como grande e sem brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
." disse Bannister.

A maior parte dos planetas anões, semelhantes a RR245, foi destruída ou lançada para fora do Sistema Solar no caos que se seguiu à deslocação dos planetas gigantes para as suas posições atuais: RR245 é um dos poucos planetas deste tipo que sobreviveu até hoje – em conjunto com Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
e Eris, os maiores planetas anões conhecidos. RR245 orbita agora o Sol no meio da população remanescente de dezenas de milhares de mundos transneptunianos muito mais pequenos, cuja órbita é na maior parte dos casos invisível.

Os mundos que se situam longe do Sol têm geologias exóticas, com paisagens feitas de diversos materiais congelados, como revelou a sonda New Horizons, na sua recente aproximação a Plutão.

Depois de centenas de anos a mais de 12 mil milhões de quilómetros (80 AU
unidade astronómica (UA)
Unidade de distância, definida como a distância média entre a Terra e o Sol, que corresponde a 149 597 870 km, ou 8,3 minutos-luz.
) do Sol, RR245 viaja em direção ao seu periélio
periélio
O periélio é o ponto da órbita de um corpo que orbita o Sol em que este se encontra mais próximo do Sol.
(maior aproximação ao Sol) a 5 mil milhões de quilómetros (34 AU), onde chegará por volta de 2096. RR245 tem estado numa órbita altamente elíptica durante pelo menos os últimos 100 milhões de anos.

Tendo em conta que RR245 foi apenas observado durante um dos setecentos anos que leva a orbitar o Sol, ainda não se sabe a sua origem nem como irá evoluir a sua órbita no futuro; a órbita será determinada com precisão ao longo dos próximos anos, e depois RR245 receberá um nome. A equipa do levantamento OSSOS, como responsável pela descoberta, será convidada a propor um nome da sua preferência e o resultado será depois decidido pela União Astronómica Internacional.

"O levantamento OSSOS foi projetado para mapear a estrutura orbital do Sistema Solar exterior, com o objetivo de compreender a sua história," disse o professor Brett Gladman, da Universidade de British Columbia, em Vancouver. "Embora não tenha sido concebido para detetar de forma eficiente planetas anões, estamos muito satisfeitos por ter encontrado um numa órbita tão interessante."

RR245 é a maior descoberta e o único planeta anão encontrado pelo levantamento OSSOS, que até ao momento já detetou mais de quinhentos novos objetos transneptunianos. "O OSSOS só é possível graças às excecionais capacidades de observação do CFHT. O telescópio está localizado num dos melhores locais de observação na Terra, equipado com uma enorme câmara de amplo campo de visão e pode adaptar-se rapidamente em cada noite às novas descobertas que fazemos. É dos melhores instrumentos que existem." disse Gladman.

Os levantamentos anteriores mapearam quase todos os planetas anões mais brilhantes. 2015 RR245 pode ser um dos últimos grandes mundos, para lá de Neptuno, a ser encontrado, até entrarem em operação telescópios maiores, como o LSST, em meados da década de 2020.

O levantamento OSSOS envolve uma colaboração de cinquenta cientistas em institutos e universidades de todo o mundo.

Fonte da notícia: http://www.cfht.hawaii.edu/en/news/NewDwarfPlanet/