Exoplaneta recém-nascido descoberto em torno de estrela jovem

2016-06-22

Ilustração do exoplaneta K2-33b, um dos mais jovens detetados até à data. Completa uma órbita em torno da sua estrela em cerca de cinco dias. Créditos: NASA/JPL-Caltech.
Os astrónomos anunciaram a descoberta do mais jovem exoplaneta
planeta extra-solar
Um planeta extra-solar é um planeta que não orbita o nosso Sol.
, completamente formado, até agora detetado. A descoberta foi feita através do telescópio espacial Kepler, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, e da sua missão K2, e também do Observatório W. M. Keck
W. M. Keck Observatory
O Observatório W. M. Keck é operado pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) e pela NASA, e encontra-se localizado em Mauna Kea, no Havai. O observatório é constituído por dois telescópios gémeos de 10 metros, o Keck I e o Keck II.
, em Mauna Kea, Havai.

O planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
agora descoberto, K2-33b, é um pouco maior que Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
e completa uma órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em torno da sua estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
a cada cinco dias. Tem entre 5 a 10 milhões de anos de idade, tornando-se num dos poucos planetas recém-nascidos encontrados até o momento.

"A Terra tem aproximadamente 4,5 mil milhões de anos," disse Trevor David, do Caltech, em Pasadena, autor de um novo estudo publicado a 20 de junho de 2016 na edição online da revista Nature. "Em comparação, o planeta K2-33b é muito jovem. Podemos pensar nele como uma criança." David trabalha com o astrónomo Lynne Hillenbrand, também do Caltech.

A formação de planetas é um processo complexo que permanece envolto em mistério. Os astrónomos descobriram e confirmaram até agora cerca de 3000 exoplanetas; no entanto, quase todos têm estrelas hospedeiras de meia-idade, com mil milhões de anos ou mais. Tentar compreender os ciclos de vida de sistemas planetários usando os exemplos existentes é como tentar compreender as primeiras fases do crescimento humano, dos bebés aos adolescentes, estudando apenas adultos.

"Este planeta recém-nascido vai ajudar-nos a perceber melhor como se formam os planetas, o que é importante para compreendermos os processos que levaram à formação da Terra," disse o coautor do estudo, Erik Petigura, do Caltech.

Os primeiros sinais de existência do planeta foram medidos pela missão K2. A câmara do telescópio detetou uma diminuição periódica da luz emitida pela estrela hospedeira, sinal de que um planeta em órbita poderia estar a passar regularmente em frente à estrela, bloqueando a luz. Os dados do Observatório Keck validaram esta hipótese e também ajudaram a confirmar que se tratava de um planeta jovem.

Medições no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
realizadas pelo Telescópio Espacial Spitzer
Spitzer Space Telescope
O Telescópio Espacial Spitzer é um telescópio de infravermelhos colocado em órbita pela NASA a 25 de Agosto de 2003. Este telescópio, anteriormente designado por Space InfraRed Telescope Facility (SIRTF), foi re-baptizado em homenagem a Lyman Spitzer, Jr. (1914-1997), um dos grandes astrofísicos norte-americanos do século XX. Espera-se que este observatório espacial contribua grandemente em diversos campos da Astrofísica, como por exemplo na procura de anãs castanhas e planetas gigantes, na descoberta e estudo de discos protoplanetários à volta de estrelas próximas, no estudo de galáxias ultraluminosas no infravermelho e de núcleos de galáxias activas, e no estudo do Universo primitivo.
, da NASA, mostraram que o sistema da estrela está rodeado por um fino disco de detritos planetários, indicando que a fase de formação planetária está a terminar. Os planetas formam-se a partir de discos espessos de gás e poeira, os disco protoplanetários, que rodeiam as estrelas jovens.

"Inicialmente, este material pode esconder planetas em formação, mas depois de alguns milhões de anos a poeira começa a dissipar-se," disse a coautora Anne Marie Cody, do Programa de Pós-Doutoramento da NASA no Ames Research Center, Silicon Valley, Califórnia. "É durante esta janela no tempo que podemos começar a detetar, com o K2, as assinaturas de planetas jovens."

Uma característica surpreendente desta descoberta é o facto de K2-33b se encontrar muito próximo da sua estrela. O planeta está quase 10 vezes mais próximo da estrela que Mercúrio
Mercúrio
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. É o mais pequeno dos planetas rochosos, com um diâmetro cerca de 40% menor do que o da Terra.
do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
, o que o torna muito quente. Um grande número de exoplanetas mais velhos foram encontrados em órbitas muito próximas das suas estrelas e os astrónomos têm tentado explicar este facto. Uma hipótese é a de os planetas se terem formado longe da estrela e migrado para mais perto, num processo a que se dá o nome de “migração de disco” e que pode durar centenas de milhões de anos. Ora, isto não explica a localização de K2-33b, que é bem mais jovem. Outra hipótese é a de o planeta se ter formado in situ - exatamente onde está. Como se percebe, a descoberta de K2-33b fornece aos teóricos novos elementos para ponderar.

"Após as primeiras descobertas de exoplanetas massivos em órbitas próximas, há cerca de 20 anos, foi imediatamente sugerido que estes podiam não se ter formado no lugar em que foram descobertos; contudo, nos últimos anos, as teorias de formação in situ ganharam terreno, pelo que a Ideia já não parece tão estranha como antes,” disse David. E acrescentou:

"A questão que estamos a tentar responder é esta: estes grandes planetas terão levado muito tempo a entrar nestas órbitas quentes, ou poderão ter estado lá desde muito cedo? Pelo menos neste caso, a última hipótese parece provável."

Veja o vídeo sobre esta descoberta, aqui: https://youtu.be/KFvd228o7HU

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/feature/jpl/nasas-k2-finds-newborn-exoplanet-around-young-star