Hubble descobre uma lua a orbitar o planeta anão Makemake

2016-04-28

Em cima: Ilustração que mostra o distante planeta anão Makemake e a sua lua MK 2, agora descoberta. Créditos: NASA, ESA, and A. Parker (Southwest Research Institute). Em baixo: Imagem do Hubble que revela a primeira lua descoberta em torno do planeta anão Makemake. O pequeno satélite, localizado logo acima de Makemake, na imagem, é pouco visível porque se perde quase totalmente no brilho do planeta anão. Créditos: NASA, ESA, and A. Parker and M. Buie (SwRI).
O Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
detetou uma pequena lua escura a orbitar Makemake, o segundo mais brilhante planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
anão gelado - depois de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
- da Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
.

A lua – à qual se deu o nome provisório de S/2015 (136472) 1, e o diminutivo MK 2 - é aproximadamente 1300 vezes mais ténue que Makemake. MK 2 foi observada a cerca de 20921 quilómetros do planeta anão e estima-se que o seu diâmetro seja de 160,9 quilómetros. Makemake tem um diâmetro aproximado de 1400 quilómetros e foi descoberto em 2005, tendo recebido o nome de uma divindade do povo Rapa Nui, da Ilha de Páscoa. É um dos cinco planetas anões reconhecidas pela União Astronômica Internacional.

A Cintura de Kuiper é um vasto reservatório de material gelado, o que restou da construção do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
, há 4,5 mil milhões de anos, e alberga vários planetas anões. Alguns destes mundos têm satélites conhecidos, mas é a primeira vez que se descobre um para Makemake.

As observações foram feitas em abril de 2015, com a Wide Field Camera 3 do Hubble. A capacidade que o Hubble possuiu de observar objetos ténues próximos aos brilhantes, juntamente com a sua elevada resolução, permitiu aos astrónomos encontrar a lua por entre o brilho
brilho
O brilho de um astro refere-se à quantidade de luz que dele provém, ou seja, a quantidade de energia por ele emitida por unidade de área por unidade de tempo. Dado que o brilho observado, ou medido, depende da distância ao objecto, distingue-se o brilho aparente (quando medido a uma determinada distância), do brilho intrínseco (conceptualmente medido na supefície do próprio astro).
de Makemake.

Para observar a lua, a equipa usou a mesma técnica que o Hubble que tinha usado para encontrar os pequenos satélites de Plutão, em 2005, 2011 e 2012. Várias pesquisas realizadas anteriormente em torno de Makemake tinham-se revelado infrutíferas. "As estimativas iniciais mostram que a órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
da lua parece estar de perfil, o que significa que, muitas das vezes, ao olharmos para o sistema não vemos a lua, porque ela se perde no brilho de Makemake," disse Alex Parker, do Southwest Research Institute, em Boulder, Colorado, que liderou a análise das imagens.

A descoberta de uma lua pode trazer muitas informações valiosas sobre o sistema do planeta anão. Medindo a órbita da lua, os astrónomos podem calcular a massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
do sistema e saber mais sobre a sua evolução. Também vem reforçar a ideia de que a maioria dos planetas anões têm satélites.

"Makemake está na classe dos objetos raros semelhantes a Plutão, e por isso é importante descobrirmos que tem um companheiro," disse Parker. "A descoberta desta lua dá-nos a oportunidade de estudarmos Makemake com muito mais detalhe do que seríamos capazes se a lua não existisse."

E aumenta os paralelismos entre Plutão e Makemake. Sabe-se que ambos os objetos estão cobertos de metano congelado. Tal como se fez com Plutão, o estudo mais aprofundado do satélite irá facilmente revelar a densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
de Makemake, um resultado fulcral que indicará se as composições de Plutão e Makemake também são semelhantes. "Esta nova descoberta abre um novo capítulo na ciência planetária comparativa do Sistema Solar exterior," disse Marc Buie, do Southwest Research Institute, líder da equipa.

Serão necessárias mais observações do Hubble para ser possível realizar medições precisas que determinem se a órbita da lua é elíptica ou circular. As estimativas preliminares indicam que, se a lua está numa órbita circular, completa uma volta em torno de Makemake em 12 dias ou mais.

Determinar o tipo da órbita ajudará a resolver a questão da origem da lua. Uma órbita circular apertada significa que MK 2 é provavelmente o produto de uma colisão entre Makemake e outro objeto da Cintura de Kuiper. Se a órbita for alongada, é mais provável tratar-se de um objeto capturado da Cintura de Kuiper. Qualquer um destes eventos terá provavelmente ocorrido há vários milhares de milhões de anos, quando o Sistema Solar era jovem.

A descoberta pode ter resolvido um mistério sobre Makemake. Estudos realizados anteriormente em infravermelhos
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
revelaram que, embora a superfície do planeta anão seja brilhante e muito fria na sua quase totalidade, algumas áreas parecem ser mais quentes do que outras. Os astrónomos tinham sugerido que esta discrepância podia dever-se ao aquecimento pelo Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
de discretas zonas escuras na superfície de Makemake. No entanto, a menos que Makemake esteja numa orientação especial, estas zonas escuras deveriam fazer variar substancialmente o brilho do planeta anão, à medida que ele vai rodando. Mas esta variabilidade nunca foi observada.

Os dados infravermelhos anteriores não tinham resolução suficiente para separar Makemake de MK 2. Com base nas observações do Hubble, uma nova análise dos dados sugere que a área mais quente detetada anteriormente em luz infravermelha pode na realidade ter sido a superfície escura do companheiro MK 2.

Há várias hipóteses para explicar por que razão tem a lua uma superfície escura como o carvão quando está a orbitar um planeta anão tão brilhante como a neve. Uma delas é a de que, ao contrário dos objetos maiores, como Makemake, MK 2 é suficientemente pequeno para não poder manter gravitacionalmente uma crosta de gelo brilhante, que sublima sob a luz solar. Isto torna a lua semelhante a cometas
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
e a outros objetos da Cintura de Kuiper, muitos dos quais estão cobertos por material muito escuro.

Quando a lua de Plutão, Caronte, foi descoberta, em 1978, os astrónomos calcularam rapidamente a massa do sistema. A massa de Plutão era afinal centenas de vezes mais pequena que a inicialmente estimada aquando da descoberta do planeta, em 1930. “Um satélite pode permitir este tipo de revolução
revolução
Movimento de translação de um corpo ao percorrer a sua órbita em torno de outro corpo; por exemplo, o movimento dos planetas em torno do Sol, ou o da Lua em torno da Terra.
, em termos de medidas," disse Parker.

Veja o vídeo sobre a descoberta, aqui: https://youtu.be/er1sBpyih0s

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/feature/goddard/2016/hubble-discovers-moon-orbiting-the-dwarf-planet-makemake