Buraco negro gigantesco encontrado em lugar improvável do Universo

2016-04-07

Esta simulação de computador mostra um buraco negro supermassivo no centro de uma galáxia. A região a preto, no centro, representa o horizonte de eventos do buraco negro, onde nenhuma luz pode escapar à poderosa gravidade do objeto. A gravidade distorce o espaço em torno do buraco negro e a luz das estrelas próximas. Crédito: NASA, ESA, and D. Coe, J. Anderson, and R. van der Marel (STScI).
Os astrónomos descobriram um impressionante buraco negro
buraco negro
Um buraco negro é um objecto cuja gravidade é tão forte que a sua velocidade de escape é superior à velocidade da luz. Em Astronomia, distinguem-se dois tipos de buraco negro: os buracos negros estelares, que resultam da morte de uma estrela de massa elevada, e os buracos negros galácticos, que existem no centro das galáxias activas.
supermassivo, pesando 17 mil milhões de sóis, num lugar improvável: o centro de uma galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
de uma área pouco povoada do Universo. As observações, realizadas pelo Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
e pelo telescópio Gemini, no Havai, indicam que estes objetos monstruosos podem ser mais comuns do que se pensava.

Até ao momento, os maiores buracos negros supermassivos - com cerca de 10 mil milhões de vezes a massa do Sol
massa solar
Massa solar é a quantidade de massa existente no Sol e, simultaneamente, a unidade na qual os astrónomos exprimem as massas das estrelas, nebulosas e galáxias. Uma massa solar é igual a 1,989x1030 kg.
– tinham sido encontrados nos núcleos de galáxias muito grandes e em regiões do Universo repletas de outras grandes galáxias. De facto, os atuais recordista atingem proporções de 21 mil milhões de sóis e residem no repleto enxame galáctico de Coma, com mais de 1000 galáxias.

"O buraco negro agora descoberto reside no centro de uma enorme galáxia elíptica, NGC 1600, localizada num remanso cósmico, um pequeno grupo de aproximadamente 20 galáxias," disse Chung-Pei Ma, astrónomo da Universidade da Califórnia-Berkeley, que foi o investigador principal desta descoberta e que é também o diretor do MASSIVE Survey, um estudo das maiores galáxias e buracos negros do Universo local.

Encontrar um buraco negro gigantesco numa enorme galáxia de uma área lotada do Universo é algo muito provável – tal como é provável encontrar um arranha-céus em Manhattan. Menos provável é buracos negros deste tipo poderem ser encontrados em “pequenas cidades” do Universo.

"Há poucas galáxias do tamanho de NGC 1600 a residirem em enxames de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
de tamanho médio," disse Ma. "Estimamos que estes enxames menores sejam cerca de 50 vezes mais abundantes que os enxames de galáxias gigantescos, como o enxame Coma. Assim sendo, a questão que se põe é a seguinte: será esta a ponta de um iceberg? Talvez haja mais buracos negros monstruosos por aí, que não vivem em arranha-céus de Manhattan, mas em edifícios altos, algures, nas planícies do Midwest."

Os investigadores também ficaram surpreendidos ao descobrir que o buraco negro é 10 vezes mais massivo que o previsto para uma galáxia com a massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de NGC 1600. Com base em anteriores investigações sobre buracos negros realizadas pelo Hubble, os astrónomos desenvolveram uma correlação entre a massa do buraco negro e a massa do bojo central de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
da sua galáxia hospedeira - quanto maior é o bojo, maior é a massa do buraco negro. Mas no caso de NGC 1600, a massa do buraco negro gigante ofusca de longe a massa do seu bojo relativamente esparso. "Parece que a relação não funciona muito bem com os buracos negros extremamente massivos," disse Ma.

Para explicar o tamanho gigantesco do buraco negro, uma hipótese é a de que ele se terá fundido
fusão
1- passagem do estado sólido ao líquido, por efeito do calor; 2- junção, união.
com outro buraco negro, há muito tempo, quando as interações entre galáxias eram mais frequentes. Quando duas galáxias se fundem, os seus buracos negros centrais assentam no núcleo da nova galáxia e orbitam-se. As estrelas que caem perto do binário de buracos negros, dependendo de sua velocidade e trajetória, podem efetivamente roubar quantidade de movimento
momento linear
O momento linear de um corpo é o produto da massa do corpo pela sua velocidade, e mede-se em kg m/s.
ao par giratório e adquirir velocidade suficiente para escaparem do núcleo da galáxia. Esta interação gravitacional faz com que os buracos negros vão ficando cada vez mais próximos, acabando eventualmente por se fundir, formando um buraco negro ainda maior. O buraco negro supermassivo continua depois a crescer, engolindo o gás canalizado para o núcleo por colisões de galáxias. "Para se tornar tão grande, o buraco negro terá tido uma fase muito voraz, durante a qual terá engolido grandes quantidades de gás," afirmou Ma.

A quantidade de matéria consumida por NGC 1600 pode também ser a razão pela qual esta galáxia reside numa “pequena cidade”, com poucos vizinhos galácticos. NGC 1600 domina o seu grupo galáctico, sendo pelo menos três vezes mais brilhante que os seus vizinhos. "Em outros grupos como este raramente existe esta grande diferença de luminosidades
luminosidade
A luminosidade (L) é a quantidade de energia que um objecto celeste emite por unidade de tempo e em determinado comprimento de onda, ou em determinada banda de comprimentos de onda.
," disse Ma.

A maior parte do gás da galáxia foi consumido há muito tempo, quando o buraco negro brilhou como um quasar
quasar
Os quasares são objectos extragalácticos extremamente brilhantes e compactos. Hoje acredita-se que são o centro de galáxias muito energéticas ainda num estado inicial da sua evolução (são, pois, núcleos galácticos activos - NGAs) e a sua energia provém de um buraco negro de massa muito elevada. Os seus desvios para o vermelho indicam que se encontram a distâncias cosmológicas. O seu nome, quasar, vem do inglês quasi-stellar object, ou seja, objecto quase estelar, devido à semelhança da sua imagem em placas fotográficas com a imagem de uma estrela.
ao receber fluxos de matéria que aqueceram até se tornarem num plasma
plasma
O plasma é um gás completamente ionizado, em que a temperatura é demasiado elevada para que os átomos existam como tal, sendo composto por electrões e núcleos atómicos livres. É chamado o quarto estado da matéria, para além do sólido, líquido e gasoso.
brilhante. "Agora, o buraco negro é um gigante adormecido," disse Ma. "A única forma de o encontrarmos foi através da medição das velocidades das estrelas próximas, que são fortemente influenciadas pela gravidade do buraco negro. As medições de velocidade dão-nos uma estimativa da massa do buraco negro."

As medições de velocidade foram feitas pelo instrumento GMOS (Gemini Multi-Object Spectrograph), no telescópio de 8 metros Gemini Norte
Observatório Gemini
O Observatório Gemini é constituído por dois telescópios idênticos de 8,1 metros, um no Observatório de Mauna Kea, no Havai (Gemini Norte) e outro no Cerro Pachón, no Chile (Gemini Sul). As localizações estratégicas dos telescópios providenciam uma cobertura total do céu do Norte e do Sul. O Gemini é um consórcio internacional entre os Estados Unidos da América, o Reino Unido, o Canadá, o Chile, a Austrália, a Argentina e o Brasil, e é operado pela AURA.
, em Mauna Kea, no Havai. O GMOS analisa espectrograficamente a luz do centro da galáxia, revelando estrelas numa extensão de 3000 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
a partir do núcleo. Algumas destas estrelas estão a girar em torno do buraco negro e a evitar encontros imediatos. No entanto, as estrelas que se movem em linha reta a partir do núcleo ter-se-ão aventurado numa maior aproximação ao centro, sendo depois muito provavelmente lançadas para longe pelo par de buracos negros.

As imagens de arquivo do Hubble captadas pelo instrumento NICMOS (Near Infrared Camera and Multi-Object Spectrometer) dão fundamento à hipótese de um par de buracos negros a lançar estrelas para longe. Estas imagens revelaram que o núcleo da galáxia é invulgarmente ténue, indicando poucas estrelas próximas do centro galáctico. Um núcleo empobrecido de estrelas distingue as galáxias massivas das galáxias elípticas comuns, que são muito mais brilhantes nas regiões centrais. Ma e a sua equipa estimaram que a quantidade de estrelas lançadas da região central é igual a 40 mil milhões de sóis, o que é comparável a ejetar o disco inteiro da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
.

Ma e a sua equipa relatam a descoberta deste buraco negro, localizado a cerca de 200 milhões de anos-luz da Terra, na direção da constelação
constelação
Designa-se por constelação cada uma das 88 regiões em que se divide a abóbada celeste, por convenção de 1922.
de Eridanus, na edição de 6 de abril da revista Nature. Jens Thomas, do Max Planck-Institute para a Física Extraterrestre, em Garching, Alemanha, é o principal autor do artigo.

Fonte da noticia: http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2016/12/full/