Cientistas descobrem galáxias escondidas atrás da Via Láctea

2016-02-10

Em cima: Impressão artística (não à escala) mostrando a viagem das ondas de rádio que partem das novas galáxias, passando pela Via Láctea e chegando ao radiotelescópio Parkes, na Terra. Crédito: ICRAR. Em baixo: Impressão artística das galáxias descobertas atrás da Via Láctea. A imagem foi criada usando os dados da localização real das novas galáxias e povoando aleatoriamente a região com galáxias de diferentes tamanhos, tipos e cores. Crédito: ICRAR.
Centenas de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
próximas escondidas atrás da Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
foram estudadas pela primeira vez, ajudando a desvendar uma misteriosa anomalia gravitacional a que se dá o nome de Grande Atrator.

Apesar de estarem apenas a 250 milhões de anos luz da Terra - muito próximas em termos astronómicos - as novas galáxias estavam escondidas pela nossa própria galáxia, a Via Láctea. Mas uma equipa internacional de cientistas, usando o radiotelescópio Parkes do CSIRO, equipado com um recetor inovador, foi capaz de observar, através das estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
e da poeira da Via Láctea, esta região até agora inexplorada do espaço.

A descoberta pode ajudar a explicar a região do Grande Atrator, que parece estar a atrair a Via Láctea e centenas de milhares de outras galáxias na sua direção com uma força gravitacional fortíssima.

O Professor Lister Staveley-Smith, do nó da Universidade da Austrália Ocidental do ICRAR (Centro Internacional de Pesquisa em Rádio
rádio
O rádio é a banda do espectro electromagnético de maior comprimento de onda (menor frequência) e cobre a gama de comprimentos de onda superiores a 0,85 milímetros. O domínio do rádio divide-se no submilímetro, milímetro, microondas e rádio.
Astronomia), principal autor do estudo, afirmou que a equipa descobriu 883 galáxias, um terço das quais nunca antes tinham sido observadas.

"A Via Láctea é muito bonita no céu e permite o seu próprio estudo, mas bloqueia completamente a observação das galáxias mais distantes que estão por detrás dela," acrescentou ele.

Staveley-Smith disse ainda que os cientistas têm vindo a tentar compreender o misterioso Grande Atrator desde que foram descobertos os grandes desvios da expansão do Universo, nas décadas de 1970 e 1980.

"Na verdade, não compreendemos bem o que está a provocar esta aceleração
aceleração
A aceleração é a taxa de variação da velocidade de um corpo com o tempo.
gravitacional sobre a Via Láctea, ou de onde está a vir," disse ele. "Sabemos que nesta região existem alguns aglomerados de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
muito grandes, a que damos o nome de enxames ou superaglomerados, e toda a Via Láctea está a mover-se em direção a eles a mais de dois milhões de quilómetros por hora."

A pesquisa identificou várias novas estruturas que podem ajudar a explicar o movimento da Via Láctea, incluindo três concentrações de galáxias (NW1, NW2 e NW3) e dois novos enxames (CW1 e CW2).

A Professora Renée Kraan-Korteweg, astrónoma da Universidade da Cidade do Cabo, disse que os astrónomos estão há décadas a tentar mapear a distribuição de galáxias escondida atrás da Via Láctea.

"Temos usado uma variedade de técnicas, mas apenas as observações de rádio têm realmente tido sucesso permitindo-nos ver através da camada em primeiro plano, mais espessa, de poeira e estrelas," disse ela.

"Uma galáxia média contém 100 mil milhões de estrelas, pelo que descobrir centenas de novas galáxias escondidas atrás da Via Láctea revela uma grande quantidade de massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
que até agora desconhecíamos."

A Dra. Bärbel Koribalski, da Astronomia e Ciência Espacial do CSIRO, disse que as inovadoras tecnologias do radiotelescópio Parkes tornaram possível examinar grandes áreas do céu muito rapidamente.

"Com o recetor multifeixe de 21 cm do Parkes somos agora capazes de mapear o céu 13 vezes mais depressa e obtemos uma taxa muito superior de novas descobertas," afirmou ela.

O estudo envolveu investigadores da Austrália, África do Sul, EUA e Holanda, e foi publicado no Astronomical Journal.

Vídeo: https://youtu.be/Rg6XbykJDbs
Animação mostrando a localização das galáxias descobertas. Até agora, esta região do espaço permanecia escondida devido ao gás e poeira da Via Láctea que bloqueiam a luz nos comprimentos de onda
comprimento de onda
Designa-se por comprimento de onda a distância entre dois pontos sucessivos de amplitude máxima (ou mínima) de uma onda.
ópticos. Usando o radiotelescópio Parkes do CSIRO para detetar ondas de rádio que podem viajar através do gás e poeira da nossa galáxia, centenas de novas galáxias foram descobertas nesta região do espaço. Esta animação foi criada usando os dados da localização real das novas galáxias e povoando aleatoriamente a região com galáxias de diferentes tamanhos, tipos e cores. Crédito: ICRAR. Música de Holly Broadbent.

Fonte da notícia: http://phys.org/news/2016-02-scientists-hidden-galaxies-milky.html