Chandra descobre extraordinária cauda galáctica

2015-12-22

Uma extraordinária pluma de gás quente a sair de uma galáxia, deixando um rasto semelhante a uma cauda, foi descoberta em dados do Observatório Chandra de Raios-X da NASA. Crédito: X-ray: NASA/CXC/University of Bonn/G. Schellenberger et al; Optical: INT.
Nos dados do Observatório Chandra
Chandra X-ray Observatory
O observatório de raios-X Chandra, lançado em 1999, faz parte do projecto dos Grandes Observatórios Espaciais da NASA. O seu nome homenageia Subrahmanyan Chandrasekhar, Prémio Nobel da Física em 1983. O Chandra detecta fontes de raios-X a milhares de milhões de anos-luz de nós. Observar em raios-X é a única forma de observar matéria muito quente, a milhões de graus Célsius. O Chandra detecta raios-X de regiões de alta energia, como por exemplo remanescentes de supernovas.
de Raios-X da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
foi descoberta uma extraordinária pluma de gás quente a sair de uma galáxia
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
deixando um rasto semelhante a uma cauda. Esta pluma, ou cauda, de raios-X
raios-X
A radiação X é a radiação electromagnética cujo comprimento de onda está compreendido entre o ultravioleta e os raios gama, ou seja, pertence ao intervalo de aproximadamente 0,1 Å a 100 Å. Descobertos em 1895, os raios-X tambêm são, por vezes, chamados de raios de Röntgen em homenagem ao seu descobridor. A radiação X é altamente penetrante, o que a torna muito útil, por exemplo, para obter radiografias.
deve-se provavelmente a gás arrancado à galáxia à medida que esta se move através de uma vasta nuvem de gás quente intergaláctico. Com um comprimento de pelo menos 250 mil anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
, é provavelmente a maior cauda deste tipo até agora detetada. Na imagem, os raios-X (azul) observados pelo Chandra foram combinados com dados de luz visível
radiação visível
A radiação visível é a região do espectro electromagnético que os nossos olhos detectam, compreendida entre os comprimentos de onda de 350 e 700 nm (frequências entre 4,3 e 7,5x1014Hz). Os nossos olhos distinguem luz visível de frequências diferentes, desde a luz violeta (radiação com comprimentos de onda ~ 400 nm), até à luz vermelha (com comprimentos de onda ~ 700 nm), passando pelo azul, anil, verde, amarelo e laranja.
(amarelo) do Grupo de Telescópios Isaac Newton, das Ilhas Canárias, Espanha.

A cauda está localizado no enxame de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
Zwicky 8338, a quase 700 milhões de anos-luz da Terra e o seu comprimento é mais do dobro do diâmetro de toda a Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
. O gás da cauda tem temperaturas de aproximadamente 10 milhões de graus, sendo cerca de 20 milhões de graus mais frio que o gás intergaláctico, mas ainda assim suficientemente quente para brilhar intensamente em raios-X, que o Chandra pode detetar.

Os investigadores acreditam que a cauda tenha sido criada quando uma galáxia conhecida como CGCG254-021 (ou talvez um grupo de galáxias dominadas por esta grande galáxia) lavrou através do gás quente do enxame Zwicky 8338. A pressão exercida por este movimento rápido terá feito com que o gás fosse arrancado da galáxia.

Em imagens de Chandra e do Karl Jansky Very Large Array
Very Large Array (VLA)
O VLA é um radiointerferómetro composto por 27 antenas de 25 m de diâmetro, dispostas em três braços (em forma de Y) com 9 antenas cada, localizado no Novo México (EUA). O VLA é operado pelo NRAO (National Radio Astronomy Observatory).
(que não fazem parte da composição), a galáxia CGCG254-021 parece estar a mover-se em direção à parte inferior da imagem com a cauda a segui-la. Há uma abertura significativa entre a cauda de raios-X e a galáxia, a maior até agora observada, e pode ser a prova de que todo o gás foi arrancado da galáxia.

Através do exame cuidadoso das propriedades da galáxia e da sua cauda, os astrónomos conseguiram mais informações sobre as interações do sistema. A cauda tem um ponto mais brilhante, referido como a "cabeça". Para trás dessa cabeça fica a cauda de emissão difusa de raios-X. O gás na cabeça pode ser mais frio que o do resto da cauda e mais rico em elementos mais pesados que o hélio. Na parte dianteira da cabeça há indícios de uma curva de choque, semelhante a uma onda de choque
onda de choque
Uma onda de choque é uma variação brusca da pressão, temperatura e densidade de um fluído, que se desenvolve quando a velocidade de deslocação do fluído excede a velocidade de propagação do som.
formada por um avião supersónico, e em frente à curva fica a galáxia CGCG254-021.

Uma investigação independente, envolvendo observações no infravermelho
infravermelho
Região do espectro electromagnético compreendida entre os comprimentos de onda de 0,7 e 350 mícrones. Esta banda permite observar astros, fenómenos, ou processos físicos com temperaturas entre 10 e 5200 graus Kelvin.
, indica que CGCG254-021 tem a maior massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de todas as galáxias do enxame Zwicky 8338. As observações no infravermelho em conjunto com os modelos de evolução de galáxias permitem concluir que, das galáxias do enxame, CGCG254-021 teve de longe a maior taxa de formação de estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
no passado recente. No entanto, não há quaisquer sinais de nova formação de estrelas, possivelmente porque o gás se esgotou na formação da cauda.

O artigo que descreve estes resultados foi publicado na edição de novembro de 2015 da revista Astronomy and Astrophysics e também está disponível online. Os autores do artigo são Gerrit Schellenberger e Thomas Reiprich da Universidade de Bona, na Alemanha.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/mission_pages/chandra/chandra-finds-remarkable-galactic-ribbon-unfurled.html