Hubble obtém a primeira imagem prevista de uma supernova

2015-12-17

Composição de imagens que mostra a procura da supernova Refsdal, pelo Hubble. À esquerda: uma parte da observação de campo profundo do enxame de galáxias MACS J1149.5+2223, pelo programa Frontier Fields. O círculo indica a posição prevista do mais recente aparecimento da supernova. No canto inferior direito, é visível o evento Cruz de Einstein, de finais de 2014. À direita, em cima: observações do Hubble de outubro de 2015, obtidas no início do programa de observação para detetar o recente aparecimento da supernova. À direita, em baixo: a descoberta da supernova Refsdal, a 11 de dezembro de 2015, tal como tinha sido prevista por vários modelos diferentes. Crédito: NASA & ESA and P. Kelly (University of California, Berkeley).
Muitas estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
terminam a sua vida explodindo, mas apenas algumas dessas explosões estelares foram observadas a acontecer. Até agora, sempre que isso ocorreu, foi por uma questão de sorte. A 11 de dezembro de 2015, os astrónomos lograram não apenas fotografar uma supernova
supernova
Uma supernova é a explosão de uma estrela no final da sua vida. As explosões de supernova são de tal forma violentas e luminosas que o seu brilho pode ultrapassar o brilho de uma galáxia inteira. Existem dois tipos principais de supernova: as supernovas Tipo Ia, que resultam da explosão duma estrela anã branca que, no seio de um sistema binário, rouba matéria da estrela companheira até a sua massa atingir o limite de Chandrasekhar e então colapsa; e as supernovas Tipo II, que resultam da explosão de uma estrela isolada de massa elevada (com massa superior a cerca de 4 vezes a massa do Sol) que esgotou o seu combustível nuclear e expeliu as suas camadas externas, restando apenas um objecto compacto (uma estrela de neutrões ou um buraco negro).
em ação, mas vê-la no momento em que tinham previsto que acontecesse.

A supernova Refsdal [1] foi observada no enxame de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
MACS J1149.5+2223. A luz deste enxame levou cerca de cinco mil milhões de anos a chegar até nós e a própria supernova explodiu muito antes, há cerca de 10 mil milhões de anos [2].

A história de Refsdal começou em novembro de 2014, quando os cientistas observaram quatro imagens diferentes da supernova num um efeito raro, conhecido como Cruz de Einstein, em torno de uma galáxia do enxame MACS J1149.5+2223 [3]. A massa
massa
A massa é uma medida da quantidade de matéria de um dado corpo.
de uma única galáxia dentro do enxame deforma e amplia a luz da explosão estelar distante, provocando uma ilusão ótica cósmica, num processo conhecido como lente gravitacional
efeito de lente gravitacional
O efeito de lente gravitacional consiste na deflexão da luz provocada pelo campo gravitacional muito forte de um objecto que se encontra entre o observador e a fonte de luz. Por exemplo, uma galáxia, ou um enxame de galáxias, que se encontre entre nós e um objecto astronómico muito distante, como um quasar, pode actuar como uma lente gravitacional. Tipicamente, o efeito de lente gravitacional faz com que se observe, numa única fotografia, mais do que uma imagem do mesmo objecto.
.

"Ao estudarmos a supernova, percebemos que a galáxia em que ela explodiu já era conhecida por estar a sofrer um efeito de lente," disse Steve Rodney, da Universidade da Carolina do Sul, coautor do artigo. "A galáxia que hospeda a supernova aparece-nos em pelo menos três imagens distintas produzidas por deformação da luz devida à massa no enxame de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
. "

Estas múltiplas imagens da galáxia dão-nos uma oportunidade rara. Como a matéria no enxame - tanto a escura como a visível - está desigualmente distribuída, a luz que cria cada uma destas imagens segue um caminho diferente, com um comprimento diferente. Isto implica que as imagens da galáxia que hospeda a supernova sejam vistas em momentos diferentes.

Usando outras galáxias que sofrem o efeito de lente no enxame e combinando-as com a descoberta do evento da Cruz de Einstein em 2014, os astrónomos foram capazes de fazer previsões precisas para o reaparecimento da supernova. Os cálculos também indicaram que a primeira imagem da supernova surgiu em 1998 - um evento não observado por qualquer telescópio. Para estas previsões foram usadas algumas técnicas de modelagem muito sofisticadas.

"Usamos sete modelos diferentes do enxame para calcular quando e onde a supernova iria aparecer no futuro. Foi um enorme esforço de equipa reunir os dados de entrada necessários, usando o Hubble, o VLT-MUSE e o Keck, e construir os modelos de lente," explicou Tommaso Treu, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, principal autor do artigo sobre comparação de modelos. "E de uma forma notável todos os sete modelos previam aproximadamente a mesma altura para o aparecimento da nova imagem da estrela em explosão".

Desde o final de outubro de 2015 que o Hubble tem seguido periodicamente MACS J1149.5+2223, na esperança de observar a reprise exclusiva da explosão distante e provar que os modelos estavam corretos. A 11 de dezembro, Refsdal fez finalmente a reaparição prevista.

Aqui, um vídeo ( https://youtu.be/UUMlYBeU4yE ) que mostra os três aparecimentos da supernova Refsdal no enxame de galáxias MACS J1149.5+2223.

"O Hubble tem mostrado o melhor do método científico moderno," disse Patrick Kelly, da Universidade da Califórnia, Berkeley, principal autor dos artigos sobre a descoberta e reaparecimento e coautor do artigo sobre comparação de modelos. "Testar previsões através de observações fornece meios poderosos para melhorarmos a nossa compreensão do cosmos
Cosmos
O conjunto de tudo quanto existiu, existe e alguma vez existirá. A larga escala, o Universo parece ser isotrópico e homogéneo.
."

Detetar o reaparecimento de Refsdal foi uma oportunidade única para os astrónomos testarem os seus modelos sobre como a massa - especialmente a misteriosa matéria escura
matéria escura
A matéria escura é matéria que não emite luz e por isso não pode ser observada directamente, mas cuja existência é inferida pela sua influência gravitacional na matéria luminosa, ou prevista por certas teorias. Por exemplo, os astrónomos acreditam que as regiões mais exteriores das galáxias, incluindo a Via Láctea, têm de possuir matéria escura devido às observações do movimento das estrelas. A Teoria Inflacionária do Universo prevê que o Universo tem uma densidade elevada, o que só pode ser verdade se existir matéria escura. Não se sabe ao certo o que constitui a matéria escura: poderão ser partículas subatómicas, buracos negros, estrelas de muito baixa luminosidade, ou mesmo uma combinação de vários destes ou outros objectos.
- está distribuída dentro deste enxame de galáxias. Os astrónomos estão agora ansiosos por saber que outras surpresas o programa em curso do Hubble, Frontier Fields, irá trazer à luz.

Notas:
[1] A supernova tem o nome de Refsdal em homenagem ao astrónomo norueguês Sjur Refsdal, que, em 1964, propôs pela primeira vez o uso de imagens retardadas de uma supernova sob o efeito de lente para estudar a expansão do Universo.

[2] O Observatório W.M. Keck, em Mauna Kea, no Havai, foi utilizado para medir o redshift
desvio para o vermelho (z)
Designa-se por desvio para o vermelho (em inglês, redshift) o desvio do espectro de um objecto para comprimentos de onda mais longos. O desvio para o vermelho pode dever-se ao movimento do objecto a afastar-se do observador (desvio de Doppler), ou à expansão do Universo (desvio para o vermelho cósmico, ou gravitacional). O desvio para o vermelho cósmico permite estimar a distância a que o objecto se encontra: quanto maior o desvio, mais distante o objecto. O desvio de Doppler permite calcular a velocidade a que o objecto se desloca.
da galáxia que hospeda a supernova (z = 1,491), que ajuda a determinar a sua distância.

[3] O Hubble observou MACS J1149.5+2223 através dos programas GLASS (Grism Lens Amplified Survey from Space) e Frontier Fields. Ambos os programas estão a explorar as propriedades de lente de enxames de galáxias para examinar a matéria escura que contêm e algumas das galáxias mais distantes que se situam para lá deles.

Fonte da notícia: http://spacetelescope.org/news/heic1525/