A maioria dos mundos semelhantes à Terra ainda não nasceu

2015-10-20

Impressão artística de inumeráveis planetas semelhantes à Terra que ainda terão de nascer no Universo em evolução. Crédito: NASA/ESA/G. Bacon (STScI).
A Terra chegou cedo, na evolução do Universo.
De acordo com um novo estudo teórico, publicado a 20 de outubro na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, quando o Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
surgiu, há 4,6 mil milhões de anos, apenas existiam 8% dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
potencialmente habitáveis que se irão formar no Universo. E a formação planetária não terá ainda terminado quando o Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
tiver terminado a sua vida, dentro de 6 mil milhões de anos.

Esta conclusão baseia-se numa estimativa de dados recolhidos pelo Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
e pelo observatório espacial Kepler - o prolífico caçador de planetas.

"A nossa principal motivação foi compreender o lugar da Terra no contexto do resto do Universo", disse Peter Behroozi, do Space Telescope Science Institute (STScI), em Baltimore, Maryland, autor do estudo. “Em comparação com todos os planetas que se irão formar no Universo, a Terra chegou realmente muito cedo."

Olhando bem longe e para trás no tempo, o Hubble tem oferecido aos astrónomos um "álbum de família" de observações de galáxias
galáxia
Um vasto conjunto de estrelas, nebulosas, gás e poeira interestelar gravitacionalmente ligados. As galáxias classificam-se em três categorias principais: espirais, elípticas e irregulares.
que conta a história da formação estelar no Universo à medida que as galáxias foram crescendo. Os dados mostram que, há 10 mil milhões de anos, o Universo estava a fabricar estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
a um ritmo veloz, mas a fração de hidrogénio e hélio que estava envolvida era muito baixa. Hoje, o nascimento de estrelas está a acontecer a um ritmo muito mais lento, mas há tanto gás disponível que o Universo irá continuar a fabricar estrelas e planetas durante um longo período de tempo.

"O material remanescente do Big Bang é suficiente para produzir ainda mais planetas no futuro, na Via Láctea
Via Láctea
A Via Láctea é a galáxia de que faz parte o nosso Sistema Solar. Trata-se de uma galáxia espiral gigante, com um diâmetro de cerca de 160 mil anos-luz e uma massa da ordem de 100 mil milhões de vezes a massa do Sol.
e para lá dela", acrescentou Molly Peeples do STScI, que também participou na investigação.

A pesquisa planetária realizada pelo Kepler indica que os planetas do tamanho da Terra na zona habitável
Zona Habitável
A zona habitável de uma estrela ou de um sistema solar é a região, definida em termos da distância à estrela, que é compatível com a existência de água no estado líquido na superfície de um planeta aí colocado.
de uma estrela estão por todo o lado na nossa galáxia. Tendo por base a pesquisa, os cientistas preveem que deve haver, no presente, mil milhões de mundos do tamanho da Terra na Via Láctea, e presumem que uma boa parte deles seja de tipo rochoso. Esta estimativa dispara quando se incluem as 100 mil milhões de galáxias do Universo observável
Universo observável
Chama-se Universo observável a tudo o que pode ser observado até ao limite em que, no passado, e de acordo com os modelos teóricos, o Universo era opaco, ou seja, quando tinha uma idade de apenas cerca de 300 mil anos.
.

Há assim imensas possibilidades de surgirem no futuro mais planetas do tamanho da Terra na zona habitável. A última estrela só deverá "morrer" daqui a 100 biliões de anos, o que é muito tempo para literalmente poder acontecer qualquer coisa no panorama planetário.

Os investigadores dizem que as Terras futuras terão mais tendência a surgir dentro de enxames de galáxias
enxame de galáxias
Um enxame, ou aglomerado, de galáxias é um conjunto de galáxias gravitacionalmente ligadas. A Via Láctea pertence ao aglomerado chamado Grupo Local de galáxias. O enxame de galáxias mais próximo de nós é o Enxame da Virgem.
gigantes e também em galáxias anãs, que ainda têm todo o gás disponível para fabricar estrelas e os respetivos sistemas planetários. Por outro lado, a Via Láctea já usou uma grande parte do gás disponível para a formação de estrelas no futuro.

A grande vantagem de termos chegado cedo na evolução do Universo é a capacidade que a nossa civilização já tem de utilizar telescópios potentes como o Hubble para traçar a nossa história desde o Big Bang e através da evolução das galáxias. A evidência observacional para o Big Bang e para a evolução cósmica, codificada na luz e na radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
eletromagnética em geral, será apagada dentro de 1 bilião de anos, devido à expansão acelerada do Universo. Grande parte das civilizações futuras que porventura surjam, não terão estas provas de como o Universo surgiu e evoluiu.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/2728-most-earth-like-worlds-have-yet-to-be-born