Retrato de Júpiter pelo Hubble revela alterações na Grande Mancha Vermelha

2015-10-14

Duas imagens de cima: o movimento das nuvens de Júpiter pode ser visto comparando o primeiro mapa (em cima) com o segundo (em baixo). A aproximação à Grande Mancha Vermelha em comprimentos de onda azul (à esquerda) e a vermelho (à direita) revela uma característica única filamentar nunca vista anteriormente. Crédito: NASA/ESA/Goddard/UCBerkeley/JPL-Caltech/STScI. Imagem de baixo: na Cintura Equatorial Norte de Júpiter, os cientistas avistaram uma onda rara, que só tinha sido vista uma vez antes. É semelhante a uma onda que às vezes ocorre na atmosfera da Terra quando os ciclones se formam. Esta aproximação, em cor falsa, de Júpiter mostra ciclones (setas) e a onda (linhas verticais). Crédito: NASA/ESA/Goddard/UCBerkeley/JPL-Caltech/STScI.
Com a ajuda do Telescópio Espacial Hubble
Hubble Space Telescope (HST)
O Telescópio Espacial Hubble é um telescópio espacial que foi colocado em órbita da Terra em 1990 pela NASA, em colaboração com a ESA. A sua posição acima da atmosfera terrestre permite-lhe observar os objectos astronómicos com uma qualidade ímpar.
(NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
/ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
) os cientistas produziram novos mapas de Júpiter
Júpiter
Júpiter é o quinto planeta mais próximo do Sol. Com um diâmetro cerca de 11 vezes maior do que a Terra e uma massa mais de 300 vezes superior, é o maior planeta do Sistema Solar e o primeiro dos planetas gigantes gasosos.
- o primeiro de uma série de retratos anuais dos planetas
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
exteriores do Sistema Solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
.

A recolha destas imagens anuais irá ajudar os cientistas a perceberem como mudam ao longo do tempo estes mundos gigantes. As observações pretendem captar uma ampla gama de detalhes, incluindo ventos, nuvens, tempestades e química da atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
.

As novas imagens de Júpiter já revelaram uma onda rara a norte do equador do planeta e uma pormenor filamentar único no núcleo da Grande Mancha Vermelha
Grande Mancha Vermelha de Júpiter
A Grande Mancha Vermelha de Júpiter é uma tempestade de altas-pressões que cobre uma área de 40000 km por 15000 km, no hemisfério Sul de Júpiter. A sua cor e intensidade variam com o tempo e já é observada há mais de 100 anos: no século 17, Cassini já a integrava nos seus esboços do planeta.
que não tinha sido observado anteriormente.

"Cada vez que olhamos para Júpiter, obtemos sinais de que algo realmente emocionante está a acontecer", disse Amy Simon, cientista planetária no Goddard Space Flight Center, da NASA, em Greenbelt, Maryland. "Desta vez não é exceção."

Simon e a sua equipa produziram dois mapas globais de Júpiter a partir de observações realizadas usando o instrumento de alta performance Wide Field Camera 3 do Hubble. Os dois mapas representam rotações quase consecutivas do planeta, tornando-se possível determinar as velocidades dos ventos de Júpiter. Os resultados vêm descritos num artigo do Astrophysical Journal disponível online.

As novas imagens confirmam que a Grande Mancha Vermelha continua a contrair-se e a tornar-se mais circular, processo que já dura há anos. O eixo maior
eixo maior
O eixo maior é o maior dos dois eixos de uma elipse.
desta tempestade característica tem cerca de 240 quilómetros, sendo agora menor do que era em 2014. Recentemente, a tempestade estava a contrair-se a uma taxa mais rápida que a de costume, mas a última alteração está de acordo com a tendência a longo prazo.

Agora, a Grande Mancha Vermelha continua a ser mais laranja que vermelha, e o seu núcleo, que normalmente tem uma cor mais intensa, diferencia-se menos que o costume. Observa-se um filamento fino, fora do comum, que abrange quase toda a largura do vórtice. Este filamento gira e sofre torções ao longo do período de 10 horas da sequência de imagens da Grande Mancha Vermelha, sendo distorcido por ventos de 531 quilómetros por hora ou de velocidades ainda maiores.

Na Cintura Equatorial Norte de Júpiter, os investigadores descobriram uma onda rara, que anteriormente apenas tinha sido identificada uma vez, há décadas, pela Voyager 2. Nas imagens de então, a onda era pouco visível, não tendo voltado a ser detetada até agora, quando foi encontrada a viajar a cerca de 16 graus de latitude norte, numa região repleta de ciclones
ciclone
Chama-se ciclone a uma circulação fechada, constituída por fluxos espirais de massas de ar na atmosfera, com os ventos soprando em sentido horário no Hemisfério Sul e anti-horário no Hemisfério Norte. É um sistema meteorológico caracterizado por pressão baixa na superfície.
e anticiclones. Ondas similares – as chamadas de ondas baroclínicas – surgem às vezes na atmosfera da Terra
atmosfera terrestre
A atmosfera terrestre é composta por um conjunto de camadas gasosas que envolvem a Terra. Estas camadas são designadas por Troposfera (da superfície da Terra até cerca de 10 km de altitude), Estratosfera (10 - 50 km), Mesosfera (50 - 100 km), Termosfera (100 - 400 km) e Exosfera (acima dos 400 km).
, onde os ciclones se formam.

"Até agora, pensávamos que a onda vista pela Voyager 2 tivesse sido um acaso", disse o co-autor Glenn Orton, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, Califórnia. "Parece que, afinal, é apenas rara!"

Segundo os investigadores, a onda pode ter origem numa camada limpa sob as nuvens, tornando-se apenas visível quando se propaga em altitude. Esta ideia tem por base o espaçamento entre as cristas de onda.

Além de Júpiter, os investigadores têm observado Neptuno
Neptuno
Neptuno é, a maior parte do tempo, o oitavo planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas por vezes é o nono, quando Plutão, na sua órbita excêntrica, se aproxima mais do Sol. Neptuno, de cor azulada devido à presença de metano na sua atmosfera, possui uma atmosfera onde ocorrem tempestades e ventos violentos. Com um diâmetro cerca de 4 vezes o da Terra, Neptuno é o menor e mais longíquo dos planetas gigantes gasosos.
e Urano, e no arquivo público irão também ser colocados mapas desses planetas. Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
será mais tarde adicionado à série. O Hubble vai todos os anos dedicar tempo a este grupo especial de observações, no programa que tem por nome Outer Planet Atmospheres Legacy.

"A longo prazo, o programa Outer Planeta Atmospheres Legacy é realmente importante e excitante", disse o co-autor Michael H. Wong, da Universidade da Califórnia, Berkeley. "A coleção de mapas que iremos construir ao longo do tempo não só irá ajudar os cientistas a compreenderem as atmosferas dos planetas gigantes do Sistema Solar, mas também as atmosferas de planetas descobertos em torno de outras estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
, bem como a atmosfera e os oceanos da Terra."

Vídeo: novo retrato de Júpiter produzido a partir das observações feitas com o Telescópio Espacial Hubble - https://youtu.be/3afEX8a2jPg

Fontes da notícia: http://www.nasa.gov/press-release/goddard/hubble-s-planetary-portrait-captures-new-changes-in-jupiter-s-great-red-spot
e
http://hubblesite.org/newscenter/archive/releases/2015/37/full/