A New Horizons descobre céus azuis e gelo de água em Plutão

2015-10-08

Em cima: O céu azul de Plutão: a camada de névoa em Plutão revela a sua cor azul nesta fotografia tirada pelo instrumento Ralph/CIVM (Multispectral Visible Imaging Camera), da New Horizons. Calcula-se que a neblina de elevada altitude seja de natureza semelhante à observado em Titã, lua de Saturno. A origem de ambas as neblinas envolve provavelmente reações químicas, iniciadas pela luz solar, de azoto e metano, que conduzem a partículas relativamente pequenas, como a fuligem (chamadas tolinas) que crescem à medida que se dirigem à superfície. Esta imagem foi gerada por um software que combina informações de imagens no azul, no vermelho e no infravermelho próximo para reproduzir a cor percebida pelo olho humano. Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI. Em baixo: As regiões com gelo de água exposto estão destacadas a azul, nesta imagem composta, obtida pelo instrumento Ralph, da New Horizons, que combina imagens no visível da CIVM com espectroscopia infravermelha do LEISA (Linear Etalon Imaging Spectral Array). As assinaturas mais fortes de gelo de água ocorrem ao longo da fossa Virgil, a oeste da cratera Elliot no lado esquerdo da imagem inserida, e também em Viking Terra, perto da parte superior da imagem. Surge também um grande afloramento em Baré Montes, para a direita da imagem, juntamente com numerosos afloramentos muito menores, na sua maioria associados a crateras e vales entre as montanhas. A panorâmica tem aproximadamente 450 quilómetros. Crédito: NASA/JHUAPL/SwRI.
As primeiras imagens coloridas de neblinas na atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
, enviadas pela New Horizons, da NASA
National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Entidade norte-americana, fundada em 1958, que gere e executa os programas espaciais dos Estados Unidos da América.
, na semana passada, revelam que as neblinas são azuis.

"Quem teria esperado um céu azul na Cintura de Kuiper
Cintura de Kuiper
A Cintura de Kuiper é uma região em forma de disco, localizada depois de Neptuno, entre 30 e 50 UA do Sol. É constituída por muitos pequenos corpos gelados, restos da formação do Sistema Solar, e é a fonte dos cometas de curto-período. O primeiro objecto da Cintura de Kuiper, 1992QB1, com 240 km de diâmetro, só foi descoberto em 1992, mas desde então já se conhecem centenas de objectos da Cintura de Kuiper (KBO, do inglês Kuiper Belt Object). Há astrónomos que consideram Plutão, e a sua lua Caronte, objectos da Cintura de Kuiper.
? É lindo", disse Alan Stern, principal investigador da New Horizons, do Southwest Research Institute (SwRI), Boulder, Colorado.

As partículas de neblina em si são provavelmente cinzentas ou vermelhas, mas a maneira como dispersam a luz azul tem chamado a atenção da equipa científica da New Horizons. "A impressionante tonalidade azul informa-nos sobre o tamanho e a composição das partículas de neblina", disse Carly Howett, também do SwRI. "Um céu azul resulta muitas vezes da dispersão da luz
dispersão da radiação
A dispersão da radiação é o fenómeno de alteração da trajectória dos fotões dum feixe de radiação quando este atravessa um meio. A dispersão da radiação pode resultar de qualquer combinação das três formas de interacção da radiação com a matéria: reflexão, absorção seguida de reemissão, ou difracção.
solar por partículas muito pequenas. Na Terra, essas partículas são pequeninas moléculas
molécula
Uma molécula é a unidade mais pequena de um composto químico, sendo constituída por um ou mais átomos, ligados entre si pelas interacções dos seus electrões.
de azoto. Em Plutão, parecem ser partículas maiores (mas ainda assim relativamente pequenas) como a fuligem, a que damos o nome de tolinas."

Os cientistas acreditam que as tolinas se formam em altitude na atmosfera, onde a luz solar ultravioleta
ultravioleta
O ultravioleta á a banda do espectro electromagnético que cobre a gama de comprimentos de onda entre os 91,2 e os 350 nanómetros. Esta radiação é largamente bloqueada pela atmosfera terrestre.
se separa e ioniza as moléculas de azoto e metano, permitindo-lhes reagir umas com as outras para formar iões
ião
Átomo ou molécula que perdeu ou ganhou um ou mais electrões.
mais complexos carregados negativa e positivamente. Quando se recombinam, formam macromoléculas muito complexas, num processo que foi descoberto a ocorrer na alta atmosfera de Titã, lua de Saturno
Saturno
Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar, a contar do Sol. Com um diâmetro cerca de 10 vezes o da Terra, é o segundo maior planeta do Sistema Solar. A sua característica mais marcante são os belos anéis que o rodeiam.
. As moléculas mais complexas continuam a combinar-se e a crescer até se tornarem pequenas partículas; gases voláteis condensam e as suas superfícies cobrem-se de gelo antes de terem tempo de cair, através da atmosfera, sobre superfície, contribuindo para a coloração avermelhada de Plutão.

Numa segunda descoberta significativa, a New Horizons detetou em Plutão inúmeras pequenas regiões expostas de gelo de água. A descoberta foi feita a partir de dados recolhidos pelo instrumento Ralph, da New Horizons.

"Não há grandes extensões de Plutão a mostrarem água gelada exposta", disse Jason Cook, do SwRI, membro da equipa científica, "porque aparentemente estará mascarada por outros gelos mais voláteis em quase todo o planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
. Entender porque razão a água aparece exatamente nestes e não noutros lugares, é um desafio que estamos a tentar superar."

Um aspeto curioso da deteção é que as áreas que mostram as mais claras assinaturas espectrais de gelo de água correspondem às áreas vermelho-brilhante das imagens coloridas recentemente divulgadas. "Surpreende-me que este gelo de água seja tão vermelho", diz Silvia Protopapa, membro da equipa científica e da Universidade de Maryland, College Park. "Ainda não entendemos a relação entre o gelo de água e as tolinas corantes avermelhadas na superfície de Plutão."

A sonda New Horizons está atualmente a 5 mil milhões de quilómetros da Terra, com todos os sistemas a operar normalmente.

Fonte da notícia: http://www.nasa.gov/nh/nh-finds-blue-skies-and-water-ice-on-pluto