Astrónomos observam “saco amniótico” de uma estrela-mãe

2015-09-14

Em cima: impressão artística do sistema HD 100546. Um planeta que ainda está em processo de formação poderá estar a ajudar a transferência de material no disco, da parte externa rica em gás para as regiões interiores. Crédito: David Cabezas Jimeno (SEA). Em baixo: Outra impressão artística do sistema HD 100546, desta vez, visto a maior distância. A inserção mostra a primeira imagem. Crédito: David Cabezas Jimeno (SEA).
Os astrónomos conseguiram penetrar com sucesso através do “saco amniótico” de uma estrela
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
que ainda se está a formar para observarem, pela primeira vez, a região mais interna de um sistema solar
Sistema Solar
O Sistema Solar é constituído pelo Sol e por todos os objectos que lhe estão gravitacionalmente ligados: planetas e suas luas, asteróides, cometas, material interplanetário.
embrionário.

Num trabalho de investigação publicado no jornal Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, a equipa internacional de astrónomos descreve as descobertas surpreendentes decorrentes da observação da estrela HD 100546.

O principal autor, Dr. Ignacio Mendigutía, da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Leeds, disse: "Nunca antes alguém tinha sido capaz de investigar tão de perto uma estrela que ainda se está a formar e que alberga pelo menos um planeta
planeta
Um planeta é um objecto que se forma no disco que circunda uma estrela em formação e cuja massa é superior à de Plutão (1/500 da massa da Terra) e inferior a 10 vezes a massa de Júpiter. Ao contrário das estrelas, os planetas não produzem luz, apenas reflectem a luz da estrela que orbitam.
.”

"Fomos capazes de detetar, pela primeira vez, emissão proveniente da parte mais interna do disco de gás que rodeia a estrela central. Inesperadamente, esta emissão é semelhante à de estrelas jovens e estéreis, que não mostram quaisquer sinais de ativa formação planetária."

Para observarem este sistema distante, os astrónomos utilizaram o VLTI (Very Large Telescope
Very Large Telescope (VLT)
O Very Large Telescope é um observatório operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) e localizado no Cerro Paranal, no deserto de Atacama, no Chile. O VLT é composto por 4 telescópios de 8,2 m de diâmetro que podem trabalhar simultaneamente, constituindo um interferómetro óptico, ou independentemente.
Interferometer
), com base num observatório no Chile. O VLTI combina o poder de observação de quatro telescópios de 8,2 m e pode obter imagens tão nítidas como as de um único telescópio com 130 m de diâmetro.

O Professor Rene Oudmaijer, também da Escola de Física e Astronomia da Universidade de Leeds, coautor do estudo, disse: "Tendo em conta a grande distância que nos separa da estrela (325 anos-luz
ano-luz (al)
O ano-luz (al) é uma unidade de distância igual a 9,467305 x 1012 km, que corresponde à distância percorrida pela luz, no vácuo, durante um ano.
), o desafio foi semelhante ao de tentar observar algo do tamanho de uma cabeça de alfinete a 100 km de distância".

HD 100546 é uma estrela jovem (com apenas um milésimo da idade do Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
) cercada por uma estrutura de gás e poeira em forma de disco, o disco protoplanetário, no qual os planetas se podem formar. Estes discos são comuns em torno de estrelas jovens, mas o que existe em torno de HD 100546 é muito peculiar: se a estrela estivesse no centro do nosso Sistema Solar, a parte externa do disco estender-se-ia até cerca de dez vezes a órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
de Plutão
Plutão
Plutão é, na maior parte do tempo, o nono e último planeta do Sistema Solar a contar do Sol, mas devido à sua órbita excêntrica, durante algum tempo aproxima-se mais do Sol do que Neptuno. É um planeta singular em muitos aspectos: é o mais pequeno (cerca de 1/500 o diâmetro da Terra), tem uma composição muito rica em gelos, possui a órbita mais excêntrica e inclinada em relação à eclíptica, e tem, tal como Úrano, o seu eixo de rotação muito inclinado (122º) em relação à eclíptica.
.

"O mais interessante é que o disco apresenta um buraco desprovido de material. Este buraco é muito grande, tem cerca de 10 vezes o tamanho do espaço que separa a Terra do Sol O disco interno de gás só pode sobreviver alguns anos até ser capturado pela estrela central, por isso deve estar a ser continuamente reabastecido, de alguma forma” afirmou o Dr. Mendigutía. E prosseguiu:

"Sugerimos que a influência da gravidade do planeta (ou planetas), ainda em formação, no buraco possa estar a ajudar o processo de transferência de material da parte externa e rica em gás do disco para as regiões interiores."

Sistemas como o de HD 100546, com um planeta e um buraco no disco protoplanetário, são extremamente raros. O único outro exemplo que se conhece é o de um sistema em que o buraco no disco está dez vezes mais afastado da estrela-mãe que o deste novo estudo.

"As nossas observações do disco interno de gás do sistema HD 100546 permitem-nos começar a entender a mais primordial fase da vida das estrelas que albergam planetas a uma escala que é comparável à do nosso Sistema Solar", concluiu o Professor Oudmaijer.

Fonte da notícia: http://www.ras.org.uk/news-and-press/2709-astronomers-peer-into-the-amniotic-sac-of-a-planet-hosting-star