Rosetta testemunhou maior aproximação ao Sol do cometa 67P/C-G

2015-08-14

Imagens do cometa 67P/C-G tiradas com a câmara OSIRIS da Rosetta, a cerca de 330 km do cometa, a 12 de agosto de 2015, apenas algumas horas antes de atingir o periélio. A imagem da esquerda foi obtida às 14:07 GMT, a do meio às 17:35 GMT e a da direita às 23:31 GMT. A atividade do cometa é claramente visível nas imagens, em particular, uma grande explosão, na imagem do meio. Crédito: ESA/Rosetta/MPS for OSIRIS Team MPS/UPD/LAM/IAA/SSO/INTA/UPM/DASP/IDA.
A sonda Rosetta, da ESA
European Space Agency (ESA)
A Agência Espacial Europeia foi fundada em 1975 e actualmente conta com 15 países membros, incluindo Portugal.
, testemunhou a maior aproximação ao Sol
Sol
O Sol é a estrela nossa vizinha, que se encontra no centro do Sistema Solar. Trata-se de uma estrela anã adulta (dita da sequência principal) de classe espectral G. A temperatura na sua superfície é aproximadamente 5800 graus centígrados e o seu raio atinge os 700 mil quilómetros.
do cometa
cometa
Os cometas são pequenos corpos irregulares, compostos por gelos (de água e outros) e poeiras. Os cometas têm órbitas de grande excentricidade à volta do Sol. As estruturas mais importantes dos cometas são o núcleo, a cabeleira e as caudas.
67P/Churyumov-Gerasimenko. O momento preciso do periélio
periélio
O periélio é o ponto da órbita de um corpo que orbita o Sol em que este se encontra mais próximo do Sol.
ocorreu às 02:03 GMT de 13 de agosto, quando o cometa passou a 186 milhões de quilómetros do Sol.

Durante o ano que passou desde a chegada da Rosetta, o cometa viajou 750 milhões de quilómetros ao longo da sua órbita
órbita
A órbita de um corpo em movimento é a trajectória que o corpo percorre no espaço.
em direção ao Sol, e a radiação
radiação electromagnética
A radiação electromagnética, ou luz, pode ser considerada como composta por partículas (os fotões) ou ondas. As suas propriedades dependem do comprimento de onda: ondas ou fotões com comprimentos de onda mais longos traduzem radiação menos energética. A radiação electromagnética, ou luz, é usualmente descrita como um conjunto de bandas de radiação, como por exemplo o infravermelho, o rádio ou os raios-X.
solar foi aquecendo cada vez mais o núcleo, fazendo com que os gelos se libertassem para o espaço na forma de gás a uma taxa crescente. Os gases, juntamente com as partículas de poeira que arrastam, criam a atmosfera
atmosfera
1- Camada gasosa que envolva um planeta ou uma estrela. No caso das estrelas, entende-se por atmosfera as suas camadas mais exteriores. 2- A atmosfera (atm) é uma unidade de pressão equivalente a 101 325 Pa.
e a cauda do cometa.

A atividade atinge o seu pico de intensidade na proximidade do periélio e nas semanas que se seguem - e é claramente visível nas admiráveis imagens enviadas pela sonda nos últimos meses. Uma imagem captada pela câmara de navegação da Rosetta foi obtida à 01:04 GMT de 13 de agosto, apenas uma hora antes do momento do periélio, a uma distância de cerca de 327 km.

A câmara científica também captou imagens – uma das imagens disponíveis foi obtida às 23:31 GMT de 12 de agosto, apenas algumas horas antes do periélio. A atividade do cometa é claramente visível nas imagens, com uma diversidade de jatos provenientes do núcleo, incluindo uma explosão captada às 17:35 GMT de 12 de agosto.

"A atividade continuará alta durante várias semanas, e estamos verdadeiramente ansiosos por saber quantos mais jatos e explosões conseguiremos observar, tal como tem acontecido nas últimas semanas", disse Nicolas Altobelli, cientista do projeto Rosetta.

As medições da Rosetta sugerem que o cometa está a expelir até cerca de 300 kg de vapor de água por segundo. Valor mil vezes superior ao que foi observado no mesmo período do ano passado, quando a Rosetta se aproximou do cometa pela primeira vez. Nessa altura, registava uma taxa de saída de apenas 300 g de vapor de água por segundo.

Juntamente com o gás, estima-se que o núcleo esteja a libertar até 1000 kg de poeira por segundo, criando perigosas condições de trabalho para a Rosetta.

"Nos últimos dias, fomos forçados a afastar a sonda do cometa. Estamos, esta semana, a uma distância entre os 325 km e os 340 km, numa região onde os mecanismos de posicionamento pelas estrelas
estrela
Uma estrela é um objecto celeste gasoso que gera energia no seu núcleo através de reacções de fusão nuclear. Para que tal possa suceder, é necessário que o objecto possua uma massa superior a 8% da massa do Sol. Existem vários tipos de estrelas, de acordo com as suas temperaturas efectivas, cores, idades e composição química.
da Rosetta podem operar sem se confundirem devido a excessivos níveis de poeira - sem estes mecanismos a funcionarem corretamente, a Rosetta não consegue posicionar-se no espaço", comentou Sylvain Lodiot, chefe de operações da sonda.

Monitorizar a mudança de ambiente no cometa antes, durante e após o periélio é um dos principais objetivos científicos a longo prazo da missão.

Ao longo dos últimos meses, as estações no cometa mudaram, lançando o seu hemisfério sul num curto verão – com cerca de 10 meses - após mais de cinco anos e meio na escuridão. Assim, foram reveladas partes da superfície previamente na sombra, durante a permanência de Rosetta, permitindo aos cientistas preencherem algumas das peças que faltavam no mapa da região.

Já foram identificadas quatro novas regiões geológicas no hemisfério sul, que incluem partes de ambos os lobos do cometa, elevando o número total de regiões para 23. Os nomes das novas regiões seguem a convenção de nomenclatura adotada para o cometa, deuses e deusas egípcios: Anhur, Khonsu, Sobek e Wosret.

A temperatura média do cometa também tem vindo a aumentar. Pouco tempo depois da chegada da sonda, foram registadas temperaturas de superfície de cerca de -70ºC. Até abril-maio de 2015, subiram para apenas alguns graus abaixo de zero, e para o próximo mês prevêem-se subidas da ordem de algumas dezenas de graus.

Veja aqui uma animação feita com uma série de imagens da aproximação ao periélio: http://bit.ly/1fbMrsJ

Entretanto, na Terra, os astrónomos têm vindo a acompanhar de longe a evolução do cometa. A Rosetta está demasiado próxima do cometa para ver a cauda crescer, mas as imagens recolhidas ao longo dos últimos meses por telescópios de todo o mundo mostram que a cauda já se estende por mais de 120 mil km.

Uma cabeleira assimétrica, com uma notável região de alta densidade
densidade
Em Astrofísica, densidade é o mesmo que massa volúmica: é a massa por unidade de volume.
na direção oposta à cauda principal, foi revelada em várias imagens, incluindo algumas tiradas na semana passada com o telescópio Gemini-North, em Mauna Kea, Havai.

"Combinando as imagens obtidas por telescópios terrestres com as da Rosetta, de grande plano, dos jatos individuais e das explosões, poderemos compreender melhor os processos à superfície do cometa, à medida que este se aproxima do Sol", acrescentou Nicolas.

"Pretendemos aproximar-nos mais, outra vez, após a diminuição da atividade, e fazer um levantamento das alterações no cometa. Também continuamos a esperar que o Philae seja capaz de retomar as suas operações científicas à superfície e que nos dê uma visão detalhada das alterações que podem estar a ocorrer em torno do seu local de aterragem."

Por fim, Patrick Martin, diretor da missão Rosetta, observou: "É emocionante atingir a marca do periélio, e estamos ansiosos por ver como se comportará este cometa incrível à medida que com ele nos afastarmos do Sol, durante o próximo ano."

Fonte da notícia: http://www.esa.int/Our_Activities/Space_Science/Rosetta/Rosetta_s_big_day_in_the_Sun