A Missão
A nave espacial Voyager.
Uma das grandes dúvidas que existia na altura era se a cintura de asteróides não seria um problema, com fortes probabilidades de uma sonda sofrer danos catastróficos causados por impactos com asteróides e poeiras. A cintura encontra-se entre a órbita de Marte e de Júpiter, e consiste em milhares e milhares de pequenos corpos, com tamanhos até mil quilómetros de diâmetro. Não era a probabilidade de um impacto com um pequeno corpo de tamanho de metros ou mais que preocupavam os engenheiros e cientistas, mas sim com a poeira que se pensava ser muito abundante. Essa poeira existe devido às frequentes colisões entre os asteróides. Mesmo um grão de poeira pequeno pode causar danos elevados, visto que as velocidades de impacto podem atingir vários quilómetros por segundo !
Foram as Pioneer 10 e 11 as primeiras naves terrestres a atravessar a cintura de asteróides. Correu tudo muito melhor do que se esperava. Não houve qualquer problema. Foram os batedores para missões mais complexas em direcção ao Sistema Solar externo. Estas missões decorreram nos primeiros anos da década de 70. Não levavam quase nada a bordo, nem sequer uma câmara. Tinham instrumentos para medir o campo magnético, e um sistema de fotómetros para medir luz. A Pioneer 10 passou por Júpiter em 3 de Dezembro de 1973, e depois a sua rota seguiu para os confins do Sistema Solar, sem nenhum outro encontro com um planeta. Dentro de 15-20 anos a sua bateria deve esgotar-se, e a sonda deve parar de transmitir sinais. A Pioneer 11 passou também perto de Júpiter, em 2 de Dezembro de 1974. Depois seguiu para Saturno e foi a primeira nave a passar perto deste planeta, o que aconteceu em 1 de Setembro de 1979.
Cassini/Huygens a ser preparada para o lançamento. Cassini é a maior sonda robótica que alguma vez foi enviada para outros planetas.
Entre as coisas que espantaram os cientistas foi a descoberta que o satélite Titã tem uma atmosfera densa e completamente encoberta por uma bruma. Já se sabia que Titã tinha uma atmosfera, por métodos de detecção remota a partir da Terra, mas não se sabia que era tão espessa nem que tinha essa bruma opaca. Foi impossível observar a superfície de Titã. No entanto, as observações mostraram que a atmosfera de Titã é um verdadeiro laboratório químico: sob a influência da radiação solar, metano, que constitui uns 4-6 % da atmosfera de Titã, é quebrado e reage com azoto molecular (N2) e os seus próprios produtos para dar origem a uma riquíssima gama de hidrocarbonetos. Estes são moléculas constituídas por carbono (C) e hidrogénio (H), e formam a base para os compostos da vida que conhecemos na Terra. Ainda por cima, a pressão atmosférica à superfície de Titã é de 1,5 bar, um pouco maior que na Terra. Há quem argumente que Titã representa as condições que se encontravam na Terra antes do aparecimento da vida.
O módulo Huygens.
Com as inúmeras perguntas que surgiram acerca de Titã e Saturno, chegou a altura de pensar numa missão dedicada a estes objectos: uma sonda à volta do planeta para poder estudar o planeta de perto durante algum tempo e um módulo de entrada na atmosfera de Titã. Nasceu o projecto Cassini/Huygens, uma colaboração entre a NASA, que construiu a nave mãe Cassini, e a ESA, que construiu o módulo de entrada Huygens. O módulo é chamado Huygens, por ter sido este astrónomo a descobrir Titã. A nave mãe foi baptizada Cassini, pois o astrónomo Cassini fez inúmeras observações de Saturno e descobriu uma separação nos anéis, a divisão de Cassini. Cassini e Huygens eram contemporâneos e chegaram a trabalhar no mesmo instituto durante algum tempo, o Observatório Real de Paris, por volta dos anos 1650.