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Morte de uma Estrela

Ditos

"Através do estudo da órbita de Marte ou vamos chegar aos segredos da astronomia ou para sempre permanecer na sua ignorância. "
- Johannes Kepler


Vulcões activos em Marte ?

2004-12-28
É costume ouvir dizer-se que a Lua é um planeta morto por oposição à actividade dinâmica do nosso próprio planeta. Com efeito, como não tem atmosfera nem água superficial, a Lua nunca foi sujeita às acções erosivas da geodinâmica externa. Por sua vez, os episódios vulcânicos há muito que pararam na superfície do nosso satélite, restando hoje as marcas de antigos vulcões da Lua e as imensas planícies vulcânicas que deles resultaram e que formam aquilo que os astrónomos designam por "mares". Mais notório no nosso satélite são as marcas de grandes impactos que a superfície sofreu, sabendo-se hoje que muitos deles desencadearam forte vulcanismo no primeiro milhar de milhão de anos da Lua. O mesmo se pode dizer de Mercúrio, um planeta que será brevemente objecto de estudo por parte de uma sonda automática, mas que também se sabe estar geologicamente apagado.

O mesmo não se pode dizer dos outros dois planetas telúricos que formam o nosso sistema solar: Vénus e Marte. Sobre Vénus, com um diâmetro idêntico à Terra, sabemos que possui uma atmosfera muito densa, que provoca um efeito avassalador sobre a superfície, levando a temperaturas superiores aos 400º C. Possui também enormes aparelhos vulcânicos, crateras de impacto, enormes elevações e uma deformação tectónica intensa, levando alguns estudiosos a pensarem que o nosso vizinho planetário possa ainda possuir um a actividade geológica considerável.

Marte, por sua vez, é um caso paradigmático. Estudado há quase 40 anos por numerosas sondas planetárias, algumas que pousaram da superfície, o Planeta Vermelho mostra indícios de uma actividade geodinâmica externa considerável, fortes ventos que formam enormes campos de dunas, e incontáveis canais resultantes da erosão fluvial e ou glaciar que pontuam o planeta praticamente por toda a superfície. Marte é também, o planeta com os maiores aparelhos vulcânicos do sistema solar. Devido ao seu tamanho, bem inferior ao da Terra, a força gravítica, permitiu que os cones vulcânicos e outras estruturas associadas ao vulcanismo, se desenvolvessem na vertical, chegando a atingir 26 quilómetros de altitude como o Monte Olympus que forma o maior aparelho vulcânico conhecido. Situado na bordadura do domo de Tharsis, o astrónomo Giovanni Schiaparelli, nas suas detalhadas observações no século XIX, chamou a esta gigantesca formação "Nix Olympica" (as neves de Olimpos, em referência à Odisseia), uma vez que as nuvens que coroam frequentemente esta formação serem visíveis como uma ligeira mancha branca. O edifício vulcânico é impressionante, com os seus 500 mil quilómetros quadrados, o que, com as suas múltiplas escoadas lávicas, cobririam toda a Península Ibérica.



Vista em perspectiva da caldeira do Monte Olympus. (Fonte: ESA/DLR/FU Berlin)


Agora, fotos obtidas pela Mars Express no Monte Olympus, e em mais quatro vulcões de Marte, mostram, pela contagem do número de crateras de impacto sobre as superfícies lávicas (um critério aproximado de datação), que muita desta actividade chegou até há períodos de dois a quatro milhões de anos o que, em linguagem geológica, quer dizer que "foi ontem", não se excluindo a hipótese de ainda hoje essa actividade poder ocorrer (1). A câmara da sonda disponibilizou imagens em 3 dimensões com uma resolução de 10 a 20 metros por pixel mostrando claramente a recente actividade de vulcões sobre a superfície marciana. É um pouco difícil que a sonda venha a detectar um momento de erupção, mas essa possibilidade não é de todo excluída conforme afirmam os autores do recente trabalho da "Nature".

Os cinco vulcões jovens agora estudados são o local ideal para a busca de possível vida, já que na Terra se tem encontrado a existência de microorganismos capazes de sobreviver com temperaturas extremas em ambientes que envolvem vulcões e processos hidrotermais a ele associados. Esta actividade vulcânica recente pode também ser a resposta para a dúvida que na crónica anterior colocávamos - o de saber donde provinha o metano detectado na atmosfera marciana.

Estas notícias de actividade vulcânica chegam dias depois do robô automático "Spirit" da NASA ter encontrado inequívocos vestígios da existência de água num passado remoto do Planeta Vermelho. Tudo isto nos mostra que o Marte de hoje foi já bem idêntico à Terra levando a que a exploração futura do planeta, e as revelações que ele nos trará, sejam certamente bem mais empolgantes do que alguém jamais imaginou.

(1) Nature, Vol. 432, 971-979, 23 de Dezembro de 2004