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"Nunca vemos o que já foi feito; vemos apenas o que está por fazer."
- Marie Curie


“Estamos em oposição”, diriam os Marcianos

2016-05-19
20.Mai.- 26.Mai.2016 (Portugal)

Toda gente com mais de 10 anos já viu a face lunar inteira iluminada - lua cheia. Obviamente a metade da lua virada para o Sol está sempre toda iluminada, nós é que não a vemos assim a partir do ponto de observação chamado Terra. Dia 21, sábado, a Terra encontra-se mais uma vez colocada a meio, com a Lua de um lado e o Sol do lado oposto. Portanto, a lua está em oposição e nós temos a vista desobstruída para toda a face lunar banhada no intenso brilho solar. Lua cheia.

No dia seguinte, a Terra em órbita solar cruza a linha a direto entre o Sol e o quarto planeta. Portanto, o planeta Marte está em oposição. Isso significa duas coisas. A primeira é simples. Com o Sol num lado e Marte no lado oposto, veremos ambos na mesma altura durante o pôr ou o nascer do Sol. Marte do lado oposto ao Sol, ou seja, no outro lado do horizonte. O segundo significado da oposição marciana (do planeta, não do partido político) também é simples, embora não venha logo à memória quando se pensa em oposição planetária. Tal como a Lua em oposição significa automaticamente uma lua cheia, também Marte em oposição terá de ser forçosamente um Marte cheio.


Simulação da vista de Marte atual em oposição (esq), e daqui a 4 meses (centro). A fase de Marte é claramente visível, tal como a drástica diminuição do tamanho aparente. Devido à excentricidade acentuada da sua orbita, mesmo o tamanho aparente durante a oposição varia bastante. A próxima oposição em julho 2018 vai mostrar Marte (dta.) com quase 90% do seu tamanho máximo possível (71% atualmente) e será o maior tamanho com que veremos este planeta durante as próximas duas décadas. É de aproveitar.
Crédito: GRM/NUCLIO
Não é só a Lua que passa por fases. Mercúrio e Vénus, os planetas interiores à nossa órbita, passam por todas as fases, como a Lua, embora estes na sua altura própria não em sincronização com a Lua. Marte, por ser exterior à nossa órbita, não consegue mostrar todas as fases, como Marte novo, ou Marte em quarto crescente/minguante, mas que é uma fase notória, isto é garantido. Podemos observar a fase máxima de Marte em setembro próximo, altura em que o ângulo entre Marte e Sol, a elongação, visto daqui, alcança 90°. Chama-se a isto a quadratura, embora o termo apareça mais em conversas sobre astrologia. Para evitar olhares suspeitos, prefere-se em astronomia, falar do ângulo de fase, que é o ângulo entre Sol e a Terra visto de um planeta.

Seguir o nosso planeta vizinho com telescópios significa lidar com uma panóplia de aspetos variáveis. Conforme a distância até nós, Marte sofre de uma considerável variação no tamanho. Em apenas quatro meses, entre a atual oposição e a tal quadratura, ou ângulo de fase máximo, Marte diminui quase para metade do seu tamanho aparente. Isto reduz bastante os pormenores (poder de resolução) que conseguimos captar da superfície marciana. Outro aspeto é então a dita fase do planeta, tornando uma pequena parte de Marte escuro e invisível (até 13%).



Marte em Junho 2001 (esq) permitiu a vista livre de toda a sua superfície. Cinquenta dias mais tarde, uma tempestade de poeiras envolveu o planeta todo, obstruindo qualquer vista da superfície durante muitas semanas. Se o mesmo acontecesse na Terra, haveria consequências gravíssimas para nós.
Crédito: NASA


O penúltimo aspeto variável na observação de Marte são as tempestades de poeiras. Durante e após a sua maior aproximação ao Sol, o periélio, a atmosfera marciana recebe mais 40% de calor solar do que no maior afastamento. As resultantes diferenças térmicas entre hemisférios e a resposta natural em geral da atmosfera bastante rarefeita provocam tempestades que podem envolver todo o planeta num manto impenetrável de poeiras durante vários meses. Por fim, há ainda o crescimento da calota polar que se encontra sob o outono/inverno e a diminuição da calota polar oposta que goza do calor da primavera/verão.

Nada mau para um planeta árido, aparentemente inabitável, sem vulcanismo e quaisquer dinamismos tectónicos a sério.

Fenómenos da semana
21.5. 22:14 Lua cheia
22.5. 12:16 Marte em oposição
22.5. 01:02 Lua perto de Marte (5° N)
23.5. 00:07 Lua em conjunção com Saturno (2,7° NE)

Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt