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Ditos

"Só começaremos a perceber como o Universo é simples quando reconhecermos quão estranho ele é."
- John Wheeler


Se para variar não chover...

2016-04-21
22.Abr.- 28.Abr.2016 (Portugal)

Ler livros em plena escuridão é impossível, por isso ligamos a luz. Ver as estrelas em plena luz da lua cheia é quase impossível, mas a lua não se deixa desligar. Dia 22, sexta-feira, há lua cheia toda a noite e as únicas estrelas que se destacam são as mais luminosas. Logo que anoitece nota-se que do lado este e sul nem uma mão cheia de estrelas brilhantes se manifestam. Uma das luzes nem é estrela, mas sim o planeta Júpiter perto da estrela Régulo no Leão. A outra estrela significante entre este e sul é a Espiga (Spica) na Virgem que, ao anoitecer, fica perto do horizonte.

O cenário é bem diferente ao olharmos para o espaço entre sul e oeste. Um amontoado de estrelas bem brilhantes faz frente a luz lunar. A mais brilhante e mais perto do sul é Sirio no Cão Maior. Mais a oeste (direita) e mesmo com luar intenso, a cintura de Orionte, mais conhecida como as 3 Marias, está visível como uma fila de três estrelas da mesma luminosidade. Por cima desses o gigante vermelho Betelgeuse é ainda mais notório, enquanto por baixo da dita cintura o brilho branco da gigante Rígel supera qualquer ataque da luz lunar. Partindo de Sírio passando pelas 3 Marias e estender essa linha, chega-se a outra estrela que não precisa temer a lua cheia. Aldebarã no Touro, avermelhada e chefe do enxame aberto das Híades, na qual se insere mas não é membro. É a despedida das constelações do outono/inverno. Esta região celeste entre sul e oeste ainda tem Procyon, acima de Sírio, a luz mais brilhante da constelação do Cão Menor. Mais a oeste (direita) e no cimo há ainda Capela, a cabrinha, na constelação do Cocheiro.



A constelação do Cão Menor é uma das mais pequenas no céu. Como muitas, esta não tem muita semelhança com o que representa o seu nome. Crédito: Steinbusch/GRM


Por fim, ainda há outra luz brilhante perto e abaixo de Aldebarã. Trata-se de Mercúrio uns dias após da elongação máxima leste, isto é, após a sua maior distância aparente do Sol. Nesta semana deita-se perto das 22 horas. As elongações máximas são as poucas oportunidades de estudar e observar Mercúrio, pois nas outras alturas está demasiado perto do sol. Num telescópio é possível ver a fase de Mercúrio. Quem agora vê este planeta pela primeira vez pode pensar que está a olhar para o crescente da lua em miniatura. No entanto, enquanto apenas o lado direito iluminado na Lua significa lua em crescente, em Mercúrio significa o oposto. Todos os dias o planeta aumenta o seu tamanho aparente mas diminui a parte iluminada. Visto da Terra e em relação ao Sol, Mercúrio orbita a nossa estrela vindo agora do lado esquerdo e prepara-se para fazer a parte do seu circuito que o leva para o espaço entre o Sol e a Terra. Para nós significa que Mercúrio fica cada vez mais perto e por isso maior no telescópio. Significa também, como na lua nova, que olhamos cada vez mais para a traseira não iluminada.

O que não brilha não se vê. Tal como a lua nova é invisível para o olho, Mercúrio novo (este termo na verdade não existe) também não é visível. O único momento em que podemos dar pela Lua nova no céu é durante um eclipse do Sol, quando a lua passa frente do disco solar em vez por cima ou por baixo, como é costume todos os meses.

Desta vez a passagem de Mercúrio novo entre Sol e Terra será um momento raro, muito raro. Em vez de passar por cima ou por baixo vai passar mesmo frente do disco solar. Sendo Mercúrio minúsculo no nosso céu não chega haver um eclipse do Sol. Mas vai haver a oportunidade de ver o planeta transitar o disco solar. Isto pode ser acompanhado com telescópios ou mesmo com binóculos devidamente equipados com filtros adequados (utilize o contacto em baixo se precisar ajuda ou esclarecimento quanto aos filtros ou outras questões associadas).

Este trânsito de Mercúrio foi marcado pela mecânica celeste em vigor para o dia 9 de Maio próximo. O fenómeno começa pouco após o meio-dia (12:12h) e termina às 19:40. Fica este aviso antecipado do trânsito de Mercúrio para os interessados terem tempo suficiente de preparação, pois o próximo trânsito integralmente visível para nós só se dá 33 anos menos dois dias mais tarde. Contacte-nos se pretende informação e/ou participar no evento de observação pública em Estoril no dia 9 de Maio.

Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt



Esquerda: Mercúrio situa-se atualmente cerca de 9° por baixo do enxame das Plêiades. Esta distância no céu corresponde sensivelmente a largura do punho, sem o polegar, visto com braço esticado.
Direita: O aspeto atual de Mercúrio a caminho da conjunção inferior, isto é a passagem orbital entre a Terra e o Sol. Para ver a fase de Mercúrio é preciso uma ampliação na ordem de 100-150 vezes, o que é um pouco forte para lunetas simples. Crédito: GRM/NUCLIO