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NGC 1275
Ditos
"Se estás a trabalhar em algo novo, então és necessariamente um amador."- John Wheeler
O que se passa em Quaoar ?
2004-12-14
Representação artística de Quaoar na cintura de Kuiper (STScI).
Plutão é um dos muitos outros corpos que existem nas profundezas longínquas do nosso sistema, ainda antes do reino dos cometas, corpos de gelo e rocha, que formam os limites que nos separam das estrelas. Mas Plutão não se encontra sozinho. Muito depois da sua descoberta, numerosos outros corpos, de dimensões menores ou semelhantes a Plutão, foram descobertos, algo que levaria hoje a uma redefinição do que se entende por planeta, ao meu tempo, ao tempo do meu pai e do meu avó, um corpo que reflecte a luz proveniente de uma estrela, neste caso o Sol. Daí que a tradição, esquecendo as dúvidas genéticas, seja para ser mantida.
A 7 de Outubro de 2002, os astrónomos anunciaram a descoberta de um objecto maior, cerca de metade do tamanho de Plutão, um enorme calhau composto de gelo e rocha que orbita o Sol em 288 anos. Chamado de Quaoar (deve pronunciar-se “qua-o-ar”), o objecto reside na Cintura de Kuiper, uma região do Sistema Solar que se estende para lá da órbita de Plutão e que corresponde a corpos rochosos com uma enorme fracção de gelo – restos conservados dos primeiros condensados do Sistema Solar.
Espectro de reflexão do gelo de água (a vermelho) comparado com o espectro obtido para Quaoar (cortesia de David Jewitt e “Nature”)
Um novo estudo (1), efectuado pelo astrónomo David Jewitt, do Instituto de Astronomia da Universidade do Hawai, mostra que a superfície de Quaoar está coberta de gelos de hidratos de amónia e gelo de água. Como esperado, ambas as substâncias são destruídas em poucos milhões de anos pela radiação cósmica, pelo que a sua presença na superfície de Quaoar implica, conforme nos disse David Jewitt, uma cobertura recente criada por um tipo estranho de criovulcanismo (vulcões a frio) que os astrónomos e os planetólogos não sabem explicar. O que se pensa, como afirmou Jewitt, é que “a superfície de Quaoar seja continuamente coberta por gelos cujos fluidos originais se libertam do interior”.
Esta conclusão, sem dúvida baseada em fortes observações, é não só intrigante como carece de uma importante explicação: que tipo de aquecimento poderia levar ao “vulcanismo” neste mundo distante do Sol? Os geólogos, certamente, não têm nenhuma certeza e duvido que alguém se atreva a apresentar uma. Este será um dos aspectos a ser estudados nos muitos corpos que formam a Cintura de Kuiper e que na próxima década serão observados, juntamente com Plutão, pela sonda automática “New Horizons”.
(1) “Nature”, Vol. 432, 9 Dezembro 2004