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"Não é possível conceber algo tão estranho e implausível que não tenha já sido dito por um ou outro filósofo."
- René Descartes


Porque Plutão deve ser um planeta

2005-02-22

Planeta ou não, Plutão, a sua lua Caronte e outros corpos da cintura de Kuiper serão visitados em 2015 pela sonda \"New Horizons\". Crédito: JHUAPL/SwRI
Há uns anos atrás, depois da morte de Clyde Tombaugh (1997), a União Internacional de Astronomia, associando-se à conhecida revista de divulgação astronómica "Sky & Telescope", resolveu fazer uma espécie de votação entre os astrónomos e curiosos para se saber se Plutão deveria ou não perder o estatuto de planeta. O resultado dessa votação foi igual para ambas as partes, com argumentos muito activos de um lado e do outro. Com efeito os que queriam uma reclassificação de Plutão justificavam-no com a existência de centenas de corpos naquelas regiões, alguns com o tamanho pouco inferior a Plutão e que eram considerados corpos menores - os centauros e outros corpos da cintura de Kuiper - e que não raras vezes assumem uma actividade cometária migrando para zonas interiores do sistema solar. Espectroscopicamente, embora muito ainda esteja por saber esses objectos apresentam assinaturas semelhantes às de Plutão e não passam de restos ali acrecionados e que não atingiram a dimensão planetária para uma subsequente diferenciação. Há uma outra razão para não considerar Plutão como planeta. Na verdade, a sua composição é diferente de tudo o que conhecemos nos dois grandes grupos de planetas do sistema solar, a saber: os planetas gigantes, compostos por gases; e os planetas terrestres, compostos por silicatos e outros minerais. Aqueles corpos menores, juntos com Plutão mostravam uma assinatura de gelo com rocha e um forte predomínio de matéria orgânica abiótica, diferente do que era conhecido nos outros planetas.

Muito bem, aos astrónomos interessa, muito para lá de classificar os corpos, entender a sua génese e como ela se pode enquadrar num esquema evolutivo e fisicamente coerente. Separamos estrelas de planetas, sabemos separar os diferentes tipos de estrelas, separamos os cometas dos asteróides (nem sempre fácil) e como podemos separar planetas de outros planetas?

O problema adensasse se consideramos os mais de 135 sistemas planetários até agora conhecidos. São eles planetas típicos? O que é um planeta típico? Podemos encontrar equivalentes aos corpos do sistema solar? E que dizer de corpos exóticos - nem estrelas nem planetas - ou planetas bem diferentes de tudo o que conhecemos (ver crónica anterior)?

Pessoalmente penso que Plutão, pelo menos na terminologia usual e nos compêndios de Astronomia, deverá manter o estatuto de planeta. Aliás ele foi descoberto quando em inícios do século passado se tentava encontrar o planeta X - um corpo para lá de Urano e Neptuno e que perturbava as órbitas daqueles. Quando a 18 de Fevereiro de 1930 foi descoberto ele foi baptizado por planeta e, no dia seguinte, o "New York Times" trazia uma notícia destacada sobre o Planeta X. A partir daí, as suas características foram e ainda estão a ser estudadas, o corpo foi baptizado com o nome de Plutão - de Hades, deus das profundezas e dos infernos - e passou a figurar sempre nos manuais de astronomia como o nono planeta. Quanto mais não seja, apenas por razões históricas - da História da Astronomia - o estatuto de planeta deve ser mantido. Plutão continuará sempre a ser sempre o nono planeta do sistema solar. Mesmo que a sua especificidade - e nesse caso cada corpo planetário é um caso único - seja ampliada, penso que Plutão deverá ser sempre um planeta