AVISO
Imagem do Dia
Sagitário A* no centro da Via Láctea
Ditos
" Nunca se manifeste mais claramente do que a sua capacidade de pensar."- Niels Bohr
O que nos espera em Titã ?
2005-01-11
Titã é a maior lua de Saturno e a segunda maior em todo o sistema solar, tendo um tamanho inferior a Ganimedes, sendo mesmo maior que os planetas Mercúrio e Plutão. É também a única lua a ter uma densa atmosfera. A existência desta atmosfera foi pela primeira vez referida em 1907 por José Comas Solá, seguindo-se a uma observação de que o satélite aparecia mais brilhante no centro do que no limbo, um facto confirmado espectroscopicamente pelo astrónomo Gerard Kuiper em 1944.
Inúmera informação deste mundo foi obtida pelas sondas Voyager que sobrevoaram o satélite em 1980 e 1981. Sabe-se com efeito que Titã é envolto por uma espessa atmosfera de azoto (o maior componente), metano e hidrogénio que armazenam algum do calor recebido do Sol criando um ligeiro efeito de estufa na superfície. Juntos, estes gases tomam parte de um complexo ciclo de química orgânica na qual a estabilidade do clima de Titã está ligada. Em particular, o metano derrama-se rapidamente. Se não fosse rapidamente devolvido para a atmosfera esta tornava-se fina e arrefecia à medida que o efeito de estufa provocado pelo metano fosse sendo perdido. Uma névoa opaca e cor de laranja envolve o planeta a uma altitude de 300 km deixando poucas possibilidades de observação da sua superfície, que só recentemente foi revelada aos olhos da sonda Cassini. Contudo observações infravermelhas feitas prelo telescópio Hubble e pelos telescópios Keck possibilitaram a elaboração de um mapa de regiões brilhantes e mais escuras com uma resolução superior a 250 km. Estas imagens suportam a ideia de que a superfície de Titã pode aqui e ali estar ocupada por lagos ou oceanos de etano líquido, sendo sujeita e chuvas periódicas de metano, um assunto que a sonda Huygens vai certamente esclarecer. De acordo com outros modelos, as áreas brilhantes fotografadas pelo Hubble e Keck podem também corresponder a planaltos de gelo de água que sobressaem das terras baixas e envolventes, escurecidas por sólidos e líquidos de moléculas orgânicas. A luz do Sol e a radiação cósmica agindo sobre as moléculas da atmosfera, juntamente com impactos e vulcanismo à superfície produzem a energia suficiente para a produção de novas e complexas moléculas orgânicas que se vão acumulando na superfície.
Se tudo correr bem, estas são as três situações que o módulo Huygens poderá encontrar à superfície: 1) um mundo de gelo e rocha; 2) um mundo coberto por uma pasta de “tholin” com vários gelos; 3) um oceano líquido de hidrocarbonetos. Crédito: ESA/James Garry.
Junto com Marte e Europa, Titã é considerado um dos locais mais promissores para a procura de sínteses pré-bióticas no sistema solar. Lá, da mesma forma que nos primeiros tempos da Terra, o satélite pode corresponder a um laboratório natural permitindo aos cientistas observar alguns dos passos cruciais que dão origem à vida. Pensasse que o metano sujeito a processos fotoquímicos é transformado em etano, acetileno, etileno e, quando combinado com o azoto, produzir cianeto de hidrogénio, uma molécula importante na origem da vida e precursora dos aminoácidos.
Algum trabalho de laboratório foi conduzido numa simulação da atmosfera de Titã para tentarmos perceber o que de facto se passará na sua superfície. Em 1988, Carl Sagan e um grupo de astrónomos da Universidade de Cornell começaram por simular uma mistura de azoto, metano, hidrogénio e hélio sujeita a grandes descargas eléctricas que corresponderiam aos efeitos de uma aurora. Vários materiais orgânicos foram produzidos nesta experiência, incluindo cadeias de hidrocarbonetos até sete átomos de carbono, nitrilos e um sólido castanho alaranjado com as propriedades ópticas da névoa encontrada na atmosfera de Titã pela Voyager e observações terrestres. Carl Sagan chamou-lhes tholin – uma substância orgânica complexa que não se encontra na Terra presentemente porque era de imediato oxidada pelo oxigénio livre. Por sua vez, pensa-se que os tholin seriam abuntantes nos primeiros 600 milhões de anos da Terra, tendo antecedido a origem da vida.
Será que a vida se estará a formar em Titã ? A baixa temperatura do satélite (92º K) e consequente falta de água líquida sobre a superfície eliminarão as possibilidades para o desenvolvimento de uma química orgânica ainda mais complexa. Todavia um possível criovulcanismo e grandes impactos sobre a superfície podem ter favorecido localmente condições propícias ao desenvolvimento de sínteses pré-bióticas e, quiçá, de uma exobiologia distinta de tudo o que conhecemos.
Daqui a três dias, se tudo correr bem, o módulo Huygens, separado da Cassini no dia do último Natal irá atravessar a atmosfera e pousar sobre a superfície de Titã. Três situações podem ser esperadas: o módulo cairá sobre uma superfície sólida e gelada; o módulo pousará sobre uma superfície pastosa essencialmente uma mescla de tholins com gelo; ou o módulo cairá sobre um dos muitos lagos ou oceanos de Titã, líquidos formados por uma mistura de hidrocarbonetos. Seja o que for que encontrarmos, depois do próximo dia 14 a nossa imagem do sistema solar e de Titã será certamente ampliada. Talvez, depois de tudo, o grande satélite de Saturno ainda nos leve a formular a questão: o que nos espera em Titã ?
Inúmera informação deste mundo foi obtida pelas sondas Voyager que sobrevoaram o satélite em 1980 e 1981. Sabe-se com efeito que Titã é envolto por uma espessa atmosfera de azoto (o maior componente), metano e hidrogénio que armazenam algum do calor recebido do Sol criando um ligeiro efeito de estufa na superfície. Juntos, estes gases tomam parte de um complexo ciclo de química orgânica na qual a estabilidade do clima de Titã está ligada. Em particular, o metano derrama-se rapidamente. Se não fosse rapidamente devolvido para a atmosfera esta tornava-se fina e arrefecia à medida que o efeito de estufa provocado pelo metano fosse sendo perdido. Uma névoa opaca e cor de laranja envolve o planeta a uma altitude de 300 km deixando poucas possibilidades de observação da sua superfície, que só recentemente foi revelada aos olhos da sonda Cassini. Contudo observações infravermelhas feitas prelo telescópio Hubble e pelos telescópios Keck possibilitaram a elaboração de um mapa de regiões brilhantes e mais escuras com uma resolução superior a 250 km. Estas imagens suportam a ideia de que a superfície de Titã pode aqui e ali estar ocupada por lagos ou oceanos de etano líquido, sendo sujeita e chuvas periódicas de metano, um assunto que a sonda Huygens vai certamente esclarecer. De acordo com outros modelos, as áreas brilhantes fotografadas pelo Hubble e Keck podem também corresponder a planaltos de gelo de água que sobressaem das terras baixas e envolventes, escurecidas por sólidos e líquidos de moléculas orgânicas. A luz do Sol e a radiação cósmica agindo sobre as moléculas da atmosfera, juntamente com impactos e vulcanismo à superfície produzem a energia suficiente para a produção de novas e complexas moléculas orgânicas que se vão acumulando na superfície.
Se tudo correr bem, estas são as três situações que o módulo Huygens poderá encontrar à superfície: 1) um mundo de gelo e rocha; 2) um mundo coberto por uma pasta de “tholin” com vários gelos; 3) um oceano líquido de hidrocarbonetos. Crédito: ESA/James Garry.
Junto com Marte e Europa, Titã é considerado um dos locais mais promissores para a procura de sínteses pré-bióticas no sistema solar. Lá, da mesma forma que nos primeiros tempos da Terra, o satélite pode corresponder a um laboratório natural permitindo aos cientistas observar alguns dos passos cruciais que dão origem à vida. Pensasse que o metano sujeito a processos fotoquímicos é transformado em etano, acetileno, etileno e, quando combinado com o azoto, produzir cianeto de hidrogénio, uma molécula importante na origem da vida e precursora dos aminoácidos.
Algum trabalho de laboratório foi conduzido numa simulação da atmosfera de Titã para tentarmos perceber o que de facto se passará na sua superfície. Em 1988, Carl Sagan e um grupo de astrónomos da Universidade de Cornell começaram por simular uma mistura de azoto, metano, hidrogénio e hélio sujeita a grandes descargas eléctricas que corresponderiam aos efeitos de uma aurora. Vários materiais orgânicos foram produzidos nesta experiência, incluindo cadeias de hidrocarbonetos até sete átomos de carbono, nitrilos e um sólido castanho alaranjado com as propriedades ópticas da névoa encontrada na atmosfera de Titã pela Voyager e observações terrestres. Carl Sagan chamou-lhes tholin – uma substância orgânica complexa que não se encontra na Terra presentemente porque era de imediato oxidada pelo oxigénio livre. Por sua vez, pensa-se que os tholin seriam abuntantes nos primeiros 600 milhões de anos da Terra, tendo antecedido a origem da vida.
Será que a vida se estará a formar em Titã ? A baixa temperatura do satélite (92º K) e consequente falta de água líquida sobre a superfície eliminarão as possibilidades para o desenvolvimento de uma química orgânica ainda mais complexa. Todavia um possível criovulcanismo e grandes impactos sobre a superfície podem ter favorecido localmente condições propícias ao desenvolvimento de sínteses pré-bióticas e, quiçá, de uma exobiologia distinta de tudo o que conhecemos.
Daqui a três dias, se tudo correr bem, o módulo Huygens, separado da Cassini no dia do último Natal irá atravessar a atmosfera e pousar sobre a superfície de Titã. Três situações podem ser esperadas: o módulo cairá sobre uma superfície sólida e gelada; o módulo pousará sobre uma superfície pastosa essencialmente uma mescla de tholins com gelo; ou o módulo cairá sobre um dos muitos lagos ou oceanos de Titã, líquidos formados por uma mistura de hidrocarbonetos. Seja o que for que encontrarmos, depois do próximo dia 14 a nossa imagem do sistema solar e de Titã será certamente ampliada. Talvez, depois de tudo, o grande satélite de Saturno ainda nos leve a formular a questão: o que nos espera em Titã ?