A Viagem

Huygens e Cassini por cima de Titã, uma impressão artística.
Durante estas passagens todas, foram feitas observações para testar os instrumentos e aproveitar a oportunidade. No entanto, os testes não foram tão amplos como durante missão Galileo. A NASA seguiu uma outra estratégia. Foi infeliz, na minha opinião, pois a ideia era a de poupar dinheiro por não investir em observação e, mais importante, a posterior análise dos dados. Acho que é um erro: a verba que se gasta (principalmente em mão de obra para analisar dados) é mínima relativamente a totalidade da missão (uns dois mil milhões de dólares), e os resultados da análise são importantíssimos para uma melhor compreensão do funcionamento dos instrumentos. Foi desta forma que na missão Galileo se conseguiu obter resultados de Júpiter muito rapidamente: todas as equipas já estavam perfeitamente treinadas com o uso dos instrumentos em outros objectos, pelos quais Galileo passou antes de chegar a Júpiter.
De qualquer maneira, o encontro mais importante foi sem dúvida com Júpiter, uma vez que a sonda Galileo ainda estava activa também. Embora a Cassini passasse mais longe de Júpiter que a Galileo, as duas sondas fizeram observações em simultâneo. Pessoalmente tenho trabalhado na comparação destas observações, em conjunto com um estudante .
No momento em que estou a escrever este texto, Cassini está prestes a chegar a Saturno. O dia 1 de Julho será o grande dia da inserção em órbita à volta de Saturno. Já há alguns primeiros dados, além de umas lindíssimas imagens que põem de lado as mais bonitas imagens obtidas pelas Voyager. Também seria mau sinal se assim não fosse, claro.

Uma impressão artística da descida da Huygens na atmosfera de Titã. Será que a realidade é assim ? Em meados de Janeiro de 2005 esperamos saber !
Inicialmente, a Huygens era para entrar em Titã em Novembro de 2004. No entanto, houve um problema bastante grave, que fez adiar essa data. Felizmente, foi detectado a tempo, mas podia não ter sido detectado. Foi graças à insistência do Cientista do Projecto (Project Scientist) da Huygens, Jean-Pierre Lebreton (funcionário da ESA), que se fez o teste chave. Este constituia em enviar para a Cassini um sinal rádio, que simulava o sinal que a Huygens ia transmitir durante a sua descida. A complicação deste teste é que o sinal muda de frequência devido ao efeito Doppler, já que as velocidades da Huygens relativamente a Cassini serão não nulas e mudam com o tempo. Do teste saiu um resultado assustador: a Cassini não ia captar praticamente nada dos sinais do Huygens ! Ai ! Depois de análise profunda, concluiu-se que algures no processo de construção, não foi dito aos engenheiros que era preciso contar com o efeito Doppler do sinal transmitido. Assim, a antena da Cassini simplesmente não ia ouvir nada da Huygens, pois estava preparada para a frequência errada ! Depois do primeiro susto, foi possível encontrar uma solução, mudar ligeiramente as órbitas da Cassini de modo a que a diferença de velocidade era menor do que inicialmente previsto. Não foi fácil, pois uma mudança nas órbitas no início da missão tem consequências sobre as órbitas a seguir, e por isso todo o plano da missão Cassini teve de ser revisto. Felizmente aconteceu tudo com antecedência, e agora a missão até está melhor de certa forma. Pelo menos para a Huygens, já que antes da entrada, a Cassini terá passado perto de Titã umas vezes e terá feito já algumas observações importantes, que podem ajudar a melhor entender e analisar os resultados da sonda Huygens.