Descrição



A sonda europeia Mars Express. Crédito: Ilustração por Medialab, ESA 2001.
A missão Mars Express é constituída por dois elementos, um construído por um conjunto de empresas europeias, financiadas pela ESA (o denominado módulo orbital), outro construído por um consórcio de empresas britânicas com fundos próprios e apoio da ESA (o módulo de descida Beagle2, cujo nome deriva do navio "Beagle" que levou em 1831 Charles Darwin na viagem que esteve na origem da "Teoria da Origem das Espécies"). O módulo orbital (que será de ora em diante referido apenas como Mars Express) será colocado numa órbita bastante elíptica (300km X 11900km), que praticamente sobrevoa ambos os pólos do planeta. A Mars Express fará observações da atmosfera, superfície e subsolo do planeta vermelho durante um ano marciano (687 dias, quase 2 anos terrestres). O módulo de descida (referido daqui para a frente apenas como Beagle2) entrará directamente na atmosfera marciana e "amartará" não muito longe do local onde o "Monumento a Carl Sagan" (nome de rebaptismo da missão Mars Pathfinder, da NASA) e o pequeno rover Sojourner se encontram desde 1997, na planície de Isidis.

Mars Express

As observações da Mars Express incluirão a observação da atmosfera, da superfície, e do subsolo marciano. Para tal, a missão está equipada com 6 instrumentos: uma câmara de alta resolução capaz de produzir imagens com detalhes até 2m, três espectrómetros capazes de determinar a composição da superfície e da atmosfera marcianas com elevada precisão, um analisador de partículas capaz de detectar o escape de gases para o espaço exterior, em particular o vapor de água (crê-se que uma parte da água inicialmente presente em Marte poderá ter escapado do planeta devido à sua fraca gravidade), e finalmente um sistema de radar semelhante ao utilizado na Terra para a prospecção de petróleo e detecção de minas em zonas de guerra, que poderá em Marte verificar pela primeira vez a existência (ou não) de bolsas de água subterrâneas, a qual seria uma descoberta de contornos verdadeiramente históricos para as ciências planetárias, para a eventual exploração humana do Sistema Solar e para um maior conhecimento sobre a origem da vida.

Beagle2


Visão artística do módulo Beagle2 na superfície de Marte. Todos os direitos reservados por Beagle2.com
A Beagle2 será o geólogo de serviço na missão Mars Express. Embora com um peso diminuto (apenas 70kg incluindo escudo térmico, pára-quedas, "airbags", e apenas 33kg de massa quando na superfície), a Beagle2 é o mais ambicioso módulo de aterragem jamais concebido, com uma relação entre o seu peso total e o peso dos instrumentos de observação que é quase o dobro da de qualquer missão anterior (cerca de 30% - 11kg de instrumentação para 33kg de peso), e com um custo total de cerca de 55 milhões de Euros (Meuros). Em comparação, a Mars Pathfinder da NASA custou cerca de 270 Meuros para pouco mais de 10kg de instrumentação. A Mars Express no seu todo custará aos países pertencentes à ESA, nos quais Portugal se inclui, cerca de 300 Meuros.

Dentro da estrutura exterior da Beagle2, que foi concebida pela construtora de Formula 1 McLaren (e que mais parece uma tarte quando acoplada à Mars Express...), encontram-se nada menos de 10 instrumentos, incluindo um microscópio, duas câmaras de televisão, dois espectrómetros, um sistema de análise de gases com 12 minúsculos fornos para verificar a libertação de gases de amostras quando aquecidas na presença de oxigénio.

A questão da água


Terrenos estratificado na zona de Candor Chasma. Crédito: NASA/JPL/MSSS.
A questão da descoberta de água sob o estado líquido fora da Terra está ligada às questões mais fulcrais da existência humana, algumas das quais só por si justificam verdadeiramente a própria existência das agências espaciais mundiais.

Estando estabelecida uma fortíssima correlação entre a água líquida e a explosão de formas de vida existente na Terra, as probabilidades de se vir a encontrar outras formas de vida fora do nosso planeta disparam caso se venha a descobrir água em grande quantidade no planeta vermelho, ou na lua Europa, de Júpiter.

A partir daí, torna-se inevitável um rol de perguntas (o que é, aliás, típico dos cientistas...), com origem numa só: será que existe vida nos locais onde há água?

Se não, porquê? Que outras condições têm tamanha influência para impedir a existência de vida num local onde a água abunda? Se sim, que formas de vida são essas? São semelhantes ou não às formas de vida que se encontram na Terra? Se não, que origem poderão ter tido, quando, e em que possível ambiente? Como se comportam? Como devemos alterar a nossa forma de ver o Universo, sabendo que podem ou não ser feitos dos mesmos componentes básicos? Em que medida estas formas de vida poderão ameaçar seres vivos terrestres? Poderá haver ainda outras formas de vida ainda mais exóticas? Intermédias entre a terrestre e a encontrada? Iguais a uma delas? Porquê, como, onde? Se sim, têm a mesma origem inicial, ou desenvolveram-se da mesma forma embora independentemente? Qual é essa origem, a Terra, o local onde se encontrou a nova forma de vida, os cometas, outra fonte ainda desconhecida? Que implicações existem para a detecção de vida noutros locais? Onde procurar? Como procurar?

Para responder estas perguntas, serão certamente necessárias outras missões no futuro, concerteza mais completas, mas também mais baratas, leves e avançadas do que as actuais, tal como a Beagle2 poderá, espera-se, exemplificar. E assim, à imagem da nossa curiosidade, se prolongarão num futuro longínquo as missões de exploração do espaço.

Porque a curiosidade humana não é, propriamente, limitada...